sábado, 8 de setembro de 2007

Manifesto

NEO-OBSOLETISMO

Meu estilo, estiolado pela estiagem de erudição, é um estalo. Gera-se, geralmente, em generalidades. Um estalido atávico, ataviado por termos infundáveis, uma infinda fieira de palavras sem nexo, reflexo da demência que assola da sola à cachola, da irreverência que rola, faz escola, escala a parede, estala o ovo, escala no vôo, escalada pro jogo, sapecada no fogo, sopesada na corda, acordada do sono, somada ao total, totalmente anormal, geralmente animal, dificilmente animado, comumente inanimado. Meu estilo é uma estola que dissimula a verdade, reverbera ilações, verbera versões, verseja o inútil, utiliza jargões, inutiliza padrões, padroniza a cupidez, encomprida a conversa, desconversa, desconecta, desconta, desconfia, desafia, desafina, afronta, desafronta, perde a conta, desaponta, aponta o descaminho, caminha na ponta da faca, cai ao peso da saca, sobrevive de patacas, sugere patacoadas, infere estupidez, interfere no bom senso, sanciona o sensacionalismo, seleciona o anacronismo, sintoniza o obsceno, obsta o lugar comum. Meu estilo é um estímulo à ignorância substantiva, à arrogância verbal, à verbalização adjetiva, à petulância fonética, à ambigüidade formal, às formas mais corriqueiras, às normas menos normais, aos nomes mais singulares, às notas mais dissonantes, às rotas mais sinuosas, aos sinos mais badalados, as sinas mais catastróficas, os sinais todos fechados, os fechos todos abertos, todos becos sem saída, as feridas inflamadas, as cantigas enfadonhas, as notícias infundadas, a malícia difundida, as defesas combalidas, as despesas desmedidas, as receitas bloqueadas. Meu estilo não existe. Meu estilo é um ex-tilo.

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