segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Absorvências

CÁOS NO CAIS

O caso é realmente muito sério, chave de cadeia, porta de cemitério, regime de seminário, texto de semanário, visto de passaporte, transporte de poluentes, esporte radical, corte na cervical, morte do cereal, porte de arma ilegal, parte da fruta estragada, portão da casa assombrada, perto do inferno, longe do inverno, a caminho do desterro, no aterro sanitário, interno de sanatório, velório no necrotério, semi-nudez nos pólos, gravidez de risco, risco de escorregar, de engasgar com espinho, de se jogar do espinhaço, espinafrar o desafeto, dasafeitar o objeto, desinfetar o abjeto, objetar o projeto, projetar a decadência, prolatar a sentença, preferir a violência, prosseguir na penitência, perseguir o inocente, inocentar o meliante, melindrar o honrado, desonrar o acordo, acordar todo mijado, mijar fora do penico, depenicar o inseto, incentivar o confronto, confrontar os suspeitos, suspeitar da própria mãe, sujeitar-se ao suicídio, respirar em praça pública, publicar impropérios, prosperar em desvantagem, operar a desavença, cooperar com a descrença, descrever o desperdício, desperdiçar a chance, chancelar a má notícia, notificar o réu, resumir o infortúnio, importunar o silêncio, silenciar a boa-fé, fidelizar o pecado, pescar em águas revoltas, revolver solos incultos, encurtar luas-de-mel, melar placar favorito, molhar a mão do guarda, resguardar a transgressão, transigir com o delito, delimitar a licença, licenciar o ilícito, licitar a dignidade, dignificar a infâmia, inflamar as massas, massificar a discórdia, concordar com a conta errada, erradicar a fortuna, infortunar o prazer, aprazar a alegria, inocular a alergia, alegar ignorância, ignorar os limites, limiar o caos, caotizar a ordem, desordenar a ordenha, revelar a senha, assanhar a fome, fomentar o boato e fermentar o ferimento. Este é o peso do pesadelo.

domingo, 30 de dezembro de 2007

Preferências

A COR DA COBRA CORAL

Solte as peias do cavalo e cavalgue no galope de sua imaginação. Imagine imagens mágicas, maquine saídas fáceis, facilite fugas difíceis, dificulte as artimanhas, articule patranhas e salve sua pele, proteja sua prole, profetize seu destino, preconize sua causa, cause qualquer transtorno, transforme o que estiver em torno, torne-se você mesmo e mesmo que lhe custe caro não queira ser o segundo a seguir a lei do mais forte. Fortaleça sua corte, afie o seu corte, corte o fio da sujeição, suje a água do demônio, sugue a idéia próximo, aproxime-se do brilho, faça brilhar seu saber, saiba a hora de sair, saia sem ser notado, anote os lados, ladeie os lodos, alardeie os lidos, lidere os lerdos, libere as lendas, livre-se das lêndeas, lamba as feridas, lembre o caminho de volta, volte atrás se for capaz, capacite a esperteza, desperte a vontade, vomite a maldade, maldiga a desdita, desdiga o mal dito, destitua o maldito, restitua o resto, resgate o rito, engate a ré, esquente o café, agüente a maré, mareie o barco, embarque na onda, ande na moda, modifique os modos, modere no verbo, quite a verba, conte o conto, contorne um canto, some um quanto, cubra um santo, aperte o cinto, detecte um sintoma, sintonize a cor, tonalize um som, totalize a conta, aponte um ponto, pontifique o podium, prontifique a serventia, gratifique o serviçal, certifique o serviço, cientifique a clientela, corrija a corruptela, não caia na esparrela, dispense a curatela, cure a dor que lhe atropela e atropele a fantasia para o caso da vida ser real.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Resistência

FUGA

É dever esconder do ano novo o velho pessimismo. Eu disfarço o derrotismo, derroto o cansaço, canso as manias, amaneiro a vilania, pondero a tirania, tiro de letra a porfia, por fim reconheço o erro, acerto na quantidade, quantifico a qualidade, qualifico os resultados e pode até não resultar. Resoluto recomeço, recomponho o começo, reponho o meio até o fim, para, finalmente, descascar em paz o meu ananás, saborear a sós os meus manás, mamar na vaca, afiar a faca, focar no futuro e ficar esperto que o mar está agitado. Eu não me queixo, me deixo, relaxo que nem gato, relincho como o cavalo, voo como um pardal, perdôo como o cardeal, passo como um trator, trato como um tutor, trago na ponta de língua, estrago no fuzuê, entrego na bandeja, intrigo no bordejo, bodejo na parada, parto mesmo sem norte, norteio sem bússola, sorteio e não pago o prêmio, espremo e não tiro o sumo, sumo depois apareço, apresso o passo o quanto posso, saio do fundo do poço, ouço a voz da razão, nado no raso, rezo o terço, prezo o riso, prego a peça, peço a palavra, despeço o penetra, dispenso o louvor, penso grande, pinço o grão, pinto o sete, planto bananeira, banalizo o banho, marginalizo o bando, maximizo a banda, limpo a bunda, perco o bonde, cerco o bode, calco a pua, calço o peito, peito o eito, aceito o desafio, acendo o pavio, acesso a página, seco a fonte, saco o cheque, checo o óleo, olho a ilha, molho a goela, malho o Judas, melo a jogada, jogo a toalha, tolho a liberdade, talho o terno, falho no termo e começo a cismar. Depois dos cinqüenta não dá pra facilitar.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Desistência

CONTRA O VENTO

É tempo de remar, de arrumar, de rimar, de ramear e de rumar rumo ao mar. O mar já não maremota, a marmota já não espanta, o espantalho não assusta, o assunto não interessa, o interesse não tem pressa, a pressão não comprime, o comprimido não cura, o curau não mata a fome, a fama não faz a cama, a camada não cobre, a cobra não pica, a picada não atalha, a talha não tem água, a aguagem não irriga, a briga não resolve, o revólver não atira, a tira não amarra, o tira não prende, o prendedor não segura, o seguro não paga, o toureiro não pega, o Pégaso não voa, o vôo não decola, a degola não decapita, a renda per capita não capitaliza, o capital não capitula, o capítulo está incompleto, o complexo é decifrável, o decíduo é recém-nascido, o nascituro está caduco, o cafuzo é branco, o confuso é franco, o flanco não é lateral, o literal não traduz, a introdução não prefacia, a profecia erra, a guerra não mata nem aleija, a lei já foi revogada, a revolta incitada, a citação equivocada, a cotação fraudada, a fralda descartada, a bandeira desfraldada, o frade degenerado, os gêneros desnecessários, o gênios atrabiliários, o gêmeos dessemelhados, a gema falsificada, o gemido doloroso, o gesto não amistoso, o gosto duvidoso, o duto obstruído, o dente obturado, o obtuso delgado, o obscuro ilustrado, o ilustre desconhecido, o lustre desbotado, o lastro embotado, a listra desbotada, o lustro passado, o luto aliviado, o aluvião erosivo, o erotismo impotente, a impostura relevante, a revelação velada, o velame indisfarcável, o volume imensurável, a vileza perdoável, a invalidez permanente, a placidez turbulenta, a lenta agonia da vida. A esperança é a primeira que morre.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Insistência

VOCAÇÕES II

De repente eu posso ser um repentista de um repente estilizado que vai do martelo agalopado ao rap aloprado, com seus versos comportados, bem ou mal rimados, mão direita e pé quebrado, porta estreita e portão fechado, aberto às especulações, flagrado na contramão, logrado na boa-fé, escorado ao contrapé, contraposto o argumento, contra o gosto do momento, contraindo matrimônio, contrariando os sonhos, compensando o prejuízo, convertendo os crentes, convergindo os diferentes, diferençando os semelhantes, semeando a discórdia, concordando com a maioria, concorrendo à melhoria, piorando o pior, perigando o perigo, castigando o castigo, conjugando no gerúndio e gerando um caos verbal. Frustrei o meu repente, incompetente, não cheguei sequer ao rap. Raspei de longe uma rima, não pintou nem mesmo o clima de uma peleja nordestina. Fiquei no Pantanal, embrenhado no corixo, acumpliciado aos bichos, acostumado ao bulício de dois jaburus trepando, de uma bandoneona rasqueando na noitada, de um berrante acalentando a boiada, de nada que seja urbano, nem mesmo um interurbano ou um telegrama fonado. Só passado, passível de culpa, possível desculpa, escapando ileso, lesando o legado, aviando a receita, recitando o versículo, versado em versão, avesso a visões, vertendo lágrimas, invertendo resultado, revertendo situação, simulando solução, soluçando despedida, desperdiçando medidas, meditando morte e vida. Quando afinei a inspiração as cordas da viola ainda não haviam acordado. De repente desisti do repente.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Amuletos

IMPASSÍVEL PASSÁVEL
Último dia, primeira hora, minuto de fechar o livro e abrir as contas, quebrar as pontas, perambular às tontas, apontar os destinos, desativar os desatinos, destravar as peias, apear das patas, apagar os pitos, alimentar os patos, encher os potes, escalar os postes, ancorar nos portos, abastecer nos postos, esperar apostos, apostar na mega, usar o megafone, curar megastria, corar de vergonha, vergastar o medo, mediar conflitos, conflitar interesses, interditar passagem, passar para a outra margem, marginalizar os fracos, fracionar os lucros, friccionar a pele, afrouxar a rédea, afrontar o tédio, tender à direita, endireitar o jeito, ajeitar os planos, planejar os passos, escavar os poços, possuir o passe, repassar as perdas, perdurar no tempo, contemporizar no pacto, impactar o banal, embananar o acessível, acessar o proibido, proibir o facultado, facultar a fuga, frear o fugaz, afugentar os fantasmas, imitar os fantoches, replicar os deboches, provocar debacles, desbastar fortunas, afortunar os tristes, ajuntar os trastes, instigar o trote, desviar do truste, evitar a treta, envidar esforço, esfossar a terra, aterrar a nave, navegar na neve, acordar as nove, cair das nuvens, desanuviar o destino, destinar o recado, arrecadar a tarifa, desistir da tarefa, jogar a tarrafa, arrochar a tarraxa, afrouxar o regime, arregimentar os rotos, rotular os ratos, ratificar as crenças, retificar o credo, creditar o saldo, saudar o desacreditado, pisar o ano novo com o pé esquerdo, tropeçar e ser amparado por um mendigo.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Olá

ENTRE NÓS OS TRENÓS

No mundo da lua, na rua da amargura, no rio de lágrimas, o raio de luz, às raias do tempo, nos arreios das bestas, o vareio dos bestas, a besteira dos néscios, a necessidade dos fortes, a força dos frágeis, a fragilidade dos valentes, a valentia dos poltrões, a serventia dos portões, a mensagem dos cartões, a massagem nos tendões, a mixagem nas edições, as adições inexatas, as audições inaudíveis, as condições proibitivas, as proibições idiotas, a pura idiotice, a idolatria fundamentalista, os fundamentos da lei, o fendamento da rocha, o rendimento do racha, o excremento da rixa, o sombreamento do roxo, os rouxinóis trovadores, os urinóis vazadores, as vazantes represadas, a repressão reptada, a repreensão incompreendida, a compreensão tardia, a compressão vazia, o cumprimento do dever, o devedor contumaz, a trégua e a paz. A diferença entre o ser humano e o animal é que este é racional. Na dúvida não ultrapasse, no repasse passe a vez, na sua vez espere ficar de vez, de vez em quando dê nojo, de novo, de velho, devolva, desove, dissolva, recue, recuse, não seja ser humano, desumanize sua razão, racione a dor da consciência, conscientize com paciência, apascente sem excluir, inclua sem escusar, escute sem fastio, afaste-se do cálice, encalice sem manchar, desmanche sem implodir, desmame sem sentir, desmande sem embaraço, sem baraço e sem cutelo, no braço e no cotovelo, no novelo e na novela, na vela e na caravela, na cara velha enrugada, no rio e no rego d'água, na mágoa e no perdão, na perda e no encontro, no desencontro casual, no desencanto causal, no recontro letal, na noite quente de Natal. Parabéns pelo seu 2007º aniversário.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Ser e não ser

PASSIVO FUTURO

Não sei mais o que é certo ou errado, erado ou novato, irado ou calmo, calmante ou excitado, enervante e aplacado, apoucado e valorado, valoroso e humilhado, humorado ou arrogante, arrojado e indolente, indolor ou dolorido, doloso ou inocente, inoculável ou imune, imundo e imaculado, imaginário e real, realçado e corriqueiro, corroído e intato, intátil e palpável, palpitante ou quebrantado, quebradiço e consistente, consoante e concorrente, concrescente ou insoldável, insondável e descerrado, descartado e reciclado nada pode ser julgado. Atire a primeira pedra aquele que nunca foi perdoado, perdido ou achado, achatado ou redondo, redundante ou comedido, comedor ou inapetente, inaplicável e empregado, empedrado e elastecido, eletrizante ou trivial, triunfal ou superado, sopeso e medido, medicado e recaído, recalcado e extrovertido, extrusivo e bem-vindo, bem-talhado e malfeitor, malferido e ileso, leso, liso e louco. De mudo e mouco cada qual temos um pouco, o pouco sem Deus é parco, o pardo sem luz é preto, o prato sem carne é fraco, o frasco vazio é oco, o soco no ar acerta, a seita não aceita os dogmas, a sesta já não regala, o gargalo não regula, o régulo não rege, o regimento é falho, a folha é seca, o saco está furado, o ferido foi curado e o curau esfriou. Tudo é relativo, o relato é duvidoso, a dúvida é desfeita, a desfeita vingada, a vingança frustrada, a frustração reparada, o reparo inservível, a inserção imprópria, a propriedade privada, a privatização equívoca, a equivalência díspar, disparidade ímpar, imparcialidade iníqua, iniqüidade isenta, isenção suspeitável e a insanidade, mental. Vale a pena não ser.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Não ser

VIVER POR VIVER

A rotina é a rota do enfado. A retina é o guarda-sol dos nossos olhos. A rutina é um santo remédio para o coração, cara e coragem, viagem de volta, voltado para o mal. Bem-aventurado o que sorri do próprio infortúnio, o que despreza a imprópria fortuna, e afortunadamente, dedica-se ao altruísmo, ao futurismo, ao sem-futuro. A ordem dos fatores não é o caso. O ocaso é o melhor refúgio, o acaso o maior momento, o memento a pior leitura, o leito o grande vagar, devagar voga vacância, vocação vige sabença, sabedor conhece o rumo, rumores concebem os fatos, feitos pré-concebidos, fitos desviados, desvãos entulhados, atalhos negados, negaceio enviesado, regateio fracassado, fracasso reconhecido, reconhecimento tardio, antes nunca do que tarde demais. Nunca é muito cedo pra chegar, sempre há um enredo novo pra ensaiar, uma porta pra sair, uma saída pra escapar, uma escapatória para justificar, uma justiça para tardar, uma tarde antes do escurecer. É claro que falo sério. Seria sábio não saber o que aprendi, apreender o que soltei, sortear as vestimentas, investir na bolsa, atravessar na balsa, embalsamar o corpo, emborcar o copo, corporificar a imagem, imaginar coisas, coisificar a verdade, ver de longe o próximo chegar mais perto, o esperto perder a pose, a posse reintegrada, a íntegra conhecida, o conhecido ignorado, a ignomínia perdoada, o perdulário contido, a contrição evocada, evocação invocada, inovação descartada, descartes equivocados, equívocos evitáveis, evisceração vital, vitrais partidos, repartições parciais, imparciais decisões, decisiva concessão, concepção correta, incorreção desfeita, desfaçatez refeita, refeição indigesta. Não tenho mais palavras para jogar. Passo.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Ser

É MELHOR VIVER

Língua viva é aquela que não se fala. Fala mansa é a que mais cansa e é sempre a que mais convence. Conversa fiada não paga juro. Eu, em verdade, nunca soube ao certo a diferença entre língua e idioma, o que não faz a menor diferença. Diferente é a sorte de cada um. Cada um por si que Deus tem muito mais o que fazer. Fazendo é que se aprende, errando é que se arrepende, pendendo é que se converge, convergindo é que se discrepa, discordando é que se pratica a democracia. Viu só como não é tão difícil¿ É tudo uma questão de tempo. Tempo pra tudo. Pra viver, pra correr, pra chorar, esquecer, aquecer, aquiescer, aqui e agora, dentro e fora, piora se não melhora, perora se não ataca, assaca se não ensaca, emplaca senão empata, empaca senão desanda, anda que atrás vem gente, usa a mente, racionaliza, raciona, raciocina, cumpre a sina, rouba a cena, encena o ato, atocha a tacha, revoga a taxa, atarraxa o parafuso, parafusa a crença, cresça e apareça. Nem tudo é o que parece, nem tanto é o que se merece, nem todos carecem de tanto, no entanto, quanto mais se tem mais se quer, sequer, se olha para trás, quem tem menos quem tem mais, quanto faz. Faça o que for preciso, precise na pontaria, aponte as patifarias, partilhe seus motivos, compartilhe seus arquivos, libere as fantasias e liberte os fantasmas. Torne público seu privado, privatize seus proventos, provenha as necessidades, prive-se das nescedades, previna-se das maldades, maldiga adversidades e divirta-se à vontade, que a vida é longa, mas a morte acerta.