sábado, 25 de abril de 2009

Através das traves

Nada se cria, a cria é uma cópia, as copas são redondas, as redundâncias são rotundas, o retumbante não aumenta, o aumentativo diminui, o diminuto atrai, a traição contrai, a contração retrai, o retrato esconde, o escombro mostra, o mastro cai, o caipira toca, a tocaia falha, a fala cala, o cálice quebra, a queda alavanca, a alavanca não levanta, o levante desce, o descelulado vive, o vivaldino também perde, o perdão atenua, o tênue cresce, o crépido alisa, o alísio não sopra, a soprano não mais dramatiza, traumatiza o imprevisto, o impresso não impressiona, o impreciso esclarece, encarece a humildade, a umidade não mofa, a almofada cansa, o descaso descansa, a canção não adormece, a dor arrefece, a refeição emagrece, emaciado engorda, engodo desengana, desempate desobriga, desopila a gargalhada, a galhada não protege a flora, a florada foge da primavera, a primeira impressão não é a que fica, a ficção é xerox da realidade, a realeza perdeu sua grandeza, o grandioso desbotou, embotou a lâmina, laminou o grosso, engrossou o caldo, a cauda balançou, o balanço não fechou, a fechadura travou, entravou a papelada, papelão na bebedeira, abeberar-se de saber, saberecar o tubérculo, no tabernáculo remir-se, remar contra a corrente, acarretar prejuízo, prejulgar o suspeito, suspender o sustento, sustentar a farsa, falsear o irmão, irmanar-se na amargura, amargar o preconceito, preconceber o resultado, resumir os argumentos, arguir o candidato, candiar os bois, boiar no espaço, espaçar as plantas, prantear os mortos, mortificar o coração, encouraçar a fortuna, infortunar a desgraça, degradar a repulsa, repuxar as rédeas, arredar o pé, pesar e medir, meditar e decidir. Bola na rede pelo lado de fora.

sábado, 18 de abril de 2009

Redemoinho roda moinho

A roda gira o mundo, a moda dá volta ao mundo, a soda calcina o ferro, a sonda espiona marte, a arte cultiva o belo, a parte amarga é a mais farta, o descarte é reciclável, o estandarte é a própria glória, a história é o que se escreve, a memória é o que se lembra, a vitória o que se perde, a escória o que não se quer, a colher que serve o alimento, a mulher que gera o homem, o boné que esconde o rosto, o filé que dá pra poucos, os porcos que comem o milho, os tocos que florescem, os rotos e os mal lavados, os louvados por engano, os enganados por prazer, os atrasados por querer, os querelados por dever, o dever e o direito, o perder e o ganhar, o ferver e o esfriar, consolar e não ser consolado, controlado e controverso, contravolta e seguimento, segmento e por inteiro, estrangeiro e aborígene, original e fotocópia, cornucópia e bagatela, taramela e fechadura, ferradura e cravo, o crivo e o cascalho, a casca e a resina, a resignação e a voluntarismo, a volupia e a impotência, a importância e o irrisório, o irritante e o agradável, o inefável e o trivial, o acidental e o premeditado, o predicado e o sujeito, o sujeitado e o insubmisso, o compromisso e o livre arbítrio, o árbitro e os rivais, os pais e a patria, o paria e o pareo, a parelha e o aparelho, a aparência e o engano, o enganido e o agasalhado, o agastado e o tranquilo, o trancucho e o borracho, a borracha e o pneu, o pigmeu e o gelo, o zelo e a duração, a douração e a aparencia, o apadrinhado e o pagão, o apagão e a luz, a cruz e o sinal, o ramal e o tronco, o bronco e o fino, o rabino e o pastor, o remador e o barco, o charco e o espinhaço, o abraço e a punhalada, a escada e a altura, a censura e a notícia, a polícia e o delinqüente, o insolente, o vulgar e o mais profundo. Tem lugar pra todo mundo.

sábado, 11 de abril de 2009

Ingerindo gerundio

A memória está acesa, com certeza consertando as lacunas, lacrando vazamentos, lucrando com a reciclagem, aloucando com as miragens, mirando alvos inventados, morando sob tetos inexistentes, rememorando fatos que não ocorreram, murando áreas alagadas, alegando idades avançadas, alugando moradias já moradas, legando fortunas penhoradas, ligando pontos indefinidos, logando acessos bloqueados, blocando informações inúteis, utilizando métodos ultrapassados, traspassando corpos inanimados, animando almas quebrantadas, alquebrando espíritos afoitos, infectando áreas isoladas, afetando tecidos sadios, desinfetando infecções putrefatas, purificando ares poluídos, petrificando areias movediças, amarrando cachorro com linguiça, aliando ócio remunerado à preguiça consentida, alheando conversa fiada, alienando promessa vazia, esvaziando o ódio do peito, esvaindo amargo arrependimento, esvanecendo as forças do braço, esfriando o calor do abraço, esfregando a bunda na ponta da faca, esfolando o freguês desavisado, desavindo pactos firmados, desabilitando antigos recalques, desativando anti-virus craqueados, reapresentando cenas censuradas, reavendo conceitos mal interpretados, referendando equívocos consagrados, reverenciando ídolos contrafeitos, contubernando-se com o próprio ego, ecoando estranhas doutrinas, escoando águas passadas, coando lágrimas ainda não choradas, copiando respostas erradas, copulando úteros estéreis, compilando exemplos não dados, complicando a soma dos números redondos, completando copos repletos, retomando contatos imediatos de terceiro grau., recordando passado ainda presente, recobrando futuro já passado. Os cabras estão cobrando mais ação dos cobras.

domingo, 5 de abril de 2009

Sem remo, sem rumo

REMO SEM RUMO

A viagem não tem chegada, a estrada não tem fim, o fim justifica os meios, o meio faz o ladrão, o ladrido previne o perigo, o castigo paga a culpa, a lupa capta o detalhe, o encalhe come o lucro, o xucro desafia o peão, o verão vai à praia, a palha pega fogo, o jogo vai dar empate, o site dá o furo, o juro tem mora, as amoras estão maduras, a loucura é paixão, a lesão é incurável, o execrável é escusado, o rasurado é ilegível, o elegível não vence, convence quem conversa, confessa o que peca, seca a terra a estiagem, a coragem salva a vida, ferida reage a fera, quimera refaz o sonho, sono restaura o vigor, o valor é o que conta, a ponta é o que fura, bravura é o que se espera, esfera não tem começo, apreço tem limites, o bom palpite é de graça, a praça é do povo, o ovo está frito, o aflito abrandado, o açodado contido, o feriado abolido, o partido derrotado, petardo desativado, parado na contramão, ereção interrompida, desabrida violação, violão desafinado, escaldado em água fria, em dia com o dever, perder e recuperar, chorar e sorrir, pedir e negar, somar e diminuir, extinguir e reaver, revolver e semear, sem miar e sem latir, sem provir e sem presente, descrente e acreditado, creditado e abatido, batido e batendo, sofrendo ou se deleitando, leiloando e arrematando, cozinhando em banho-maria, sinfonia inacabada, empreitada não cumprida, avenida desolada, alvorada sem nascente, comovente exaltação, direção perigosa, rigorosa precisão, decisão precipitada, questionada informação, solução equivocada, invocada proteção, pretensão ilimitada, imitada criação, cotação superestimada, ultrapassada conceituação, relação adulterada, ressaltada afirmação, noção de certo e errado, erado ou desmamado. O pior ainda está por vir.