segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Absorvências

CÁOS NO CAIS

O caso é realmente muito sério, chave de cadeia, porta de cemitério, regime de seminário, texto de semanário, visto de passaporte, transporte de poluentes, esporte radical, corte na cervical, morte do cereal, porte de arma ilegal, parte da fruta estragada, portão da casa assombrada, perto do inferno, longe do inverno, a caminho do desterro, no aterro sanitário, interno de sanatório, velório no necrotério, semi-nudez nos pólos, gravidez de risco, risco de escorregar, de engasgar com espinho, de se jogar do espinhaço, espinafrar o desafeto, dasafeitar o objeto, desinfetar o abjeto, objetar o projeto, projetar a decadência, prolatar a sentença, preferir a violência, prosseguir na penitência, perseguir o inocente, inocentar o meliante, melindrar o honrado, desonrar o acordo, acordar todo mijado, mijar fora do penico, depenicar o inseto, incentivar o confronto, confrontar os suspeitos, suspeitar da própria mãe, sujeitar-se ao suicídio, respirar em praça pública, publicar impropérios, prosperar em desvantagem, operar a desavença, cooperar com a descrença, descrever o desperdício, desperdiçar a chance, chancelar a má notícia, notificar o réu, resumir o infortúnio, importunar o silêncio, silenciar a boa-fé, fidelizar o pecado, pescar em águas revoltas, revolver solos incultos, encurtar luas-de-mel, melar placar favorito, molhar a mão do guarda, resguardar a transgressão, transigir com o delito, delimitar a licença, licenciar o ilícito, licitar a dignidade, dignificar a infâmia, inflamar as massas, massificar a discórdia, concordar com a conta errada, erradicar a fortuna, infortunar o prazer, aprazar a alegria, inocular a alergia, alegar ignorância, ignorar os limites, limiar o caos, caotizar a ordem, desordenar a ordenha, revelar a senha, assanhar a fome, fomentar o boato e fermentar o ferimento. Este é o peso do pesadelo.

domingo, 30 de dezembro de 2007

Preferências

A COR DA COBRA CORAL

Solte as peias do cavalo e cavalgue no galope de sua imaginação. Imagine imagens mágicas, maquine saídas fáceis, facilite fugas difíceis, dificulte as artimanhas, articule patranhas e salve sua pele, proteja sua prole, profetize seu destino, preconize sua causa, cause qualquer transtorno, transforme o que estiver em torno, torne-se você mesmo e mesmo que lhe custe caro não queira ser o segundo a seguir a lei do mais forte. Fortaleça sua corte, afie o seu corte, corte o fio da sujeição, suje a água do demônio, sugue a idéia próximo, aproxime-se do brilho, faça brilhar seu saber, saiba a hora de sair, saia sem ser notado, anote os lados, ladeie os lodos, alardeie os lidos, lidere os lerdos, libere as lendas, livre-se das lêndeas, lamba as feridas, lembre o caminho de volta, volte atrás se for capaz, capacite a esperteza, desperte a vontade, vomite a maldade, maldiga a desdita, desdiga o mal dito, destitua o maldito, restitua o resto, resgate o rito, engate a ré, esquente o café, agüente a maré, mareie o barco, embarque na onda, ande na moda, modifique os modos, modere no verbo, quite a verba, conte o conto, contorne um canto, some um quanto, cubra um santo, aperte o cinto, detecte um sintoma, sintonize a cor, tonalize um som, totalize a conta, aponte um ponto, pontifique o podium, prontifique a serventia, gratifique o serviçal, certifique o serviço, cientifique a clientela, corrija a corruptela, não caia na esparrela, dispense a curatela, cure a dor que lhe atropela e atropele a fantasia para o caso da vida ser real.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Resistência

FUGA

É dever esconder do ano novo o velho pessimismo. Eu disfarço o derrotismo, derroto o cansaço, canso as manias, amaneiro a vilania, pondero a tirania, tiro de letra a porfia, por fim reconheço o erro, acerto na quantidade, quantifico a qualidade, qualifico os resultados e pode até não resultar. Resoluto recomeço, recomponho o começo, reponho o meio até o fim, para, finalmente, descascar em paz o meu ananás, saborear a sós os meus manás, mamar na vaca, afiar a faca, focar no futuro e ficar esperto que o mar está agitado. Eu não me queixo, me deixo, relaxo que nem gato, relincho como o cavalo, voo como um pardal, perdôo como o cardeal, passo como um trator, trato como um tutor, trago na ponta de língua, estrago no fuzuê, entrego na bandeja, intrigo no bordejo, bodejo na parada, parto mesmo sem norte, norteio sem bússola, sorteio e não pago o prêmio, espremo e não tiro o sumo, sumo depois apareço, apresso o passo o quanto posso, saio do fundo do poço, ouço a voz da razão, nado no raso, rezo o terço, prezo o riso, prego a peça, peço a palavra, despeço o penetra, dispenso o louvor, penso grande, pinço o grão, pinto o sete, planto bananeira, banalizo o banho, marginalizo o bando, maximizo a banda, limpo a bunda, perco o bonde, cerco o bode, calco a pua, calço o peito, peito o eito, aceito o desafio, acendo o pavio, acesso a página, seco a fonte, saco o cheque, checo o óleo, olho a ilha, molho a goela, malho o Judas, melo a jogada, jogo a toalha, tolho a liberdade, talho o terno, falho no termo e começo a cismar. Depois dos cinqüenta não dá pra facilitar.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Desistência

CONTRA O VENTO

É tempo de remar, de arrumar, de rimar, de ramear e de rumar rumo ao mar. O mar já não maremota, a marmota já não espanta, o espantalho não assusta, o assunto não interessa, o interesse não tem pressa, a pressão não comprime, o comprimido não cura, o curau não mata a fome, a fama não faz a cama, a camada não cobre, a cobra não pica, a picada não atalha, a talha não tem água, a aguagem não irriga, a briga não resolve, o revólver não atira, a tira não amarra, o tira não prende, o prendedor não segura, o seguro não paga, o toureiro não pega, o Pégaso não voa, o vôo não decola, a degola não decapita, a renda per capita não capitaliza, o capital não capitula, o capítulo está incompleto, o complexo é decifrável, o decíduo é recém-nascido, o nascituro está caduco, o cafuzo é branco, o confuso é franco, o flanco não é lateral, o literal não traduz, a introdução não prefacia, a profecia erra, a guerra não mata nem aleija, a lei já foi revogada, a revolta incitada, a citação equivocada, a cotação fraudada, a fralda descartada, a bandeira desfraldada, o frade degenerado, os gêneros desnecessários, o gênios atrabiliários, o gêmeos dessemelhados, a gema falsificada, o gemido doloroso, o gesto não amistoso, o gosto duvidoso, o duto obstruído, o dente obturado, o obtuso delgado, o obscuro ilustrado, o ilustre desconhecido, o lustre desbotado, o lastro embotado, a listra desbotada, o lustro passado, o luto aliviado, o aluvião erosivo, o erotismo impotente, a impostura relevante, a revelação velada, o velame indisfarcável, o volume imensurável, a vileza perdoável, a invalidez permanente, a placidez turbulenta, a lenta agonia da vida. A esperança é a primeira que morre.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Insistência

VOCAÇÕES II

De repente eu posso ser um repentista de um repente estilizado que vai do martelo agalopado ao rap aloprado, com seus versos comportados, bem ou mal rimados, mão direita e pé quebrado, porta estreita e portão fechado, aberto às especulações, flagrado na contramão, logrado na boa-fé, escorado ao contrapé, contraposto o argumento, contra o gosto do momento, contraindo matrimônio, contrariando os sonhos, compensando o prejuízo, convertendo os crentes, convergindo os diferentes, diferençando os semelhantes, semeando a discórdia, concordando com a maioria, concorrendo à melhoria, piorando o pior, perigando o perigo, castigando o castigo, conjugando no gerúndio e gerando um caos verbal. Frustrei o meu repente, incompetente, não cheguei sequer ao rap. Raspei de longe uma rima, não pintou nem mesmo o clima de uma peleja nordestina. Fiquei no Pantanal, embrenhado no corixo, acumpliciado aos bichos, acostumado ao bulício de dois jaburus trepando, de uma bandoneona rasqueando na noitada, de um berrante acalentando a boiada, de nada que seja urbano, nem mesmo um interurbano ou um telegrama fonado. Só passado, passível de culpa, possível desculpa, escapando ileso, lesando o legado, aviando a receita, recitando o versículo, versado em versão, avesso a visões, vertendo lágrimas, invertendo resultado, revertendo situação, simulando solução, soluçando despedida, desperdiçando medidas, meditando morte e vida. Quando afinei a inspiração as cordas da viola ainda não haviam acordado. De repente desisti do repente.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Amuletos

IMPASSÍVEL PASSÁVEL
Último dia, primeira hora, minuto de fechar o livro e abrir as contas, quebrar as pontas, perambular às tontas, apontar os destinos, desativar os desatinos, destravar as peias, apear das patas, apagar os pitos, alimentar os patos, encher os potes, escalar os postes, ancorar nos portos, abastecer nos postos, esperar apostos, apostar na mega, usar o megafone, curar megastria, corar de vergonha, vergastar o medo, mediar conflitos, conflitar interesses, interditar passagem, passar para a outra margem, marginalizar os fracos, fracionar os lucros, friccionar a pele, afrouxar a rédea, afrontar o tédio, tender à direita, endireitar o jeito, ajeitar os planos, planejar os passos, escavar os poços, possuir o passe, repassar as perdas, perdurar no tempo, contemporizar no pacto, impactar o banal, embananar o acessível, acessar o proibido, proibir o facultado, facultar a fuga, frear o fugaz, afugentar os fantasmas, imitar os fantoches, replicar os deboches, provocar debacles, desbastar fortunas, afortunar os tristes, ajuntar os trastes, instigar o trote, desviar do truste, evitar a treta, envidar esforço, esfossar a terra, aterrar a nave, navegar na neve, acordar as nove, cair das nuvens, desanuviar o destino, destinar o recado, arrecadar a tarifa, desistir da tarefa, jogar a tarrafa, arrochar a tarraxa, afrouxar o regime, arregimentar os rotos, rotular os ratos, ratificar as crenças, retificar o credo, creditar o saldo, saudar o desacreditado, pisar o ano novo com o pé esquerdo, tropeçar e ser amparado por um mendigo.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Olá

ENTRE NÓS OS TRENÓS

No mundo da lua, na rua da amargura, no rio de lágrimas, o raio de luz, às raias do tempo, nos arreios das bestas, o vareio dos bestas, a besteira dos néscios, a necessidade dos fortes, a força dos frágeis, a fragilidade dos valentes, a valentia dos poltrões, a serventia dos portões, a mensagem dos cartões, a massagem nos tendões, a mixagem nas edições, as adições inexatas, as audições inaudíveis, as condições proibitivas, as proibições idiotas, a pura idiotice, a idolatria fundamentalista, os fundamentos da lei, o fendamento da rocha, o rendimento do racha, o excremento da rixa, o sombreamento do roxo, os rouxinóis trovadores, os urinóis vazadores, as vazantes represadas, a repressão reptada, a repreensão incompreendida, a compreensão tardia, a compressão vazia, o cumprimento do dever, o devedor contumaz, a trégua e a paz. A diferença entre o ser humano e o animal é que este é racional. Na dúvida não ultrapasse, no repasse passe a vez, na sua vez espere ficar de vez, de vez em quando dê nojo, de novo, de velho, devolva, desove, dissolva, recue, recuse, não seja ser humano, desumanize sua razão, racione a dor da consciência, conscientize com paciência, apascente sem excluir, inclua sem escusar, escute sem fastio, afaste-se do cálice, encalice sem manchar, desmanche sem implodir, desmame sem sentir, desmande sem embaraço, sem baraço e sem cutelo, no braço e no cotovelo, no novelo e na novela, na vela e na caravela, na cara velha enrugada, no rio e no rego d'água, na mágoa e no perdão, na perda e no encontro, no desencontro casual, no desencanto causal, no recontro letal, na noite quente de Natal. Parabéns pelo seu 2007º aniversário.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Ser e não ser

PASSIVO FUTURO

Não sei mais o que é certo ou errado, erado ou novato, irado ou calmo, calmante ou excitado, enervante e aplacado, apoucado e valorado, valoroso e humilhado, humorado ou arrogante, arrojado e indolente, indolor ou dolorido, doloso ou inocente, inoculável ou imune, imundo e imaculado, imaginário e real, realçado e corriqueiro, corroído e intato, intátil e palpável, palpitante ou quebrantado, quebradiço e consistente, consoante e concorrente, concrescente ou insoldável, insondável e descerrado, descartado e reciclado nada pode ser julgado. Atire a primeira pedra aquele que nunca foi perdoado, perdido ou achado, achatado ou redondo, redundante ou comedido, comedor ou inapetente, inaplicável e empregado, empedrado e elastecido, eletrizante ou trivial, triunfal ou superado, sopeso e medido, medicado e recaído, recalcado e extrovertido, extrusivo e bem-vindo, bem-talhado e malfeitor, malferido e ileso, leso, liso e louco. De mudo e mouco cada qual temos um pouco, o pouco sem Deus é parco, o pardo sem luz é preto, o prato sem carne é fraco, o frasco vazio é oco, o soco no ar acerta, a seita não aceita os dogmas, a sesta já não regala, o gargalo não regula, o régulo não rege, o regimento é falho, a folha é seca, o saco está furado, o ferido foi curado e o curau esfriou. Tudo é relativo, o relato é duvidoso, a dúvida é desfeita, a desfeita vingada, a vingança frustrada, a frustração reparada, o reparo inservível, a inserção imprópria, a propriedade privada, a privatização equívoca, a equivalência díspar, disparidade ímpar, imparcialidade iníqua, iniqüidade isenta, isenção suspeitável e a insanidade, mental. Vale a pena não ser.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Não ser

VIVER POR VIVER

A rotina é a rota do enfado. A retina é o guarda-sol dos nossos olhos. A rutina é um santo remédio para o coração, cara e coragem, viagem de volta, voltado para o mal. Bem-aventurado o que sorri do próprio infortúnio, o que despreza a imprópria fortuna, e afortunadamente, dedica-se ao altruísmo, ao futurismo, ao sem-futuro. A ordem dos fatores não é o caso. O ocaso é o melhor refúgio, o acaso o maior momento, o memento a pior leitura, o leito o grande vagar, devagar voga vacância, vocação vige sabença, sabedor conhece o rumo, rumores concebem os fatos, feitos pré-concebidos, fitos desviados, desvãos entulhados, atalhos negados, negaceio enviesado, regateio fracassado, fracasso reconhecido, reconhecimento tardio, antes nunca do que tarde demais. Nunca é muito cedo pra chegar, sempre há um enredo novo pra ensaiar, uma porta pra sair, uma saída pra escapar, uma escapatória para justificar, uma justiça para tardar, uma tarde antes do escurecer. É claro que falo sério. Seria sábio não saber o que aprendi, apreender o que soltei, sortear as vestimentas, investir na bolsa, atravessar na balsa, embalsamar o corpo, emborcar o copo, corporificar a imagem, imaginar coisas, coisificar a verdade, ver de longe o próximo chegar mais perto, o esperto perder a pose, a posse reintegrada, a íntegra conhecida, o conhecido ignorado, a ignomínia perdoada, o perdulário contido, a contrição evocada, evocação invocada, inovação descartada, descartes equivocados, equívocos evitáveis, evisceração vital, vitrais partidos, repartições parciais, imparciais decisões, decisiva concessão, concepção correta, incorreção desfeita, desfaçatez refeita, refeição indigesta. Não tenho mais palavras para jogar. Passo.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Ser

É MELHOR VIVER

Língua viva é aquela que não se fala. Fala mansa é a que mais cansa e é sempre a que mais convence. Conversa fiada não paga juro. Eu, em verdade, nunca soube ao certo a diferença entre língua e idioma, o que não faz a menor diferença. Diferente é a sorte de cada um. Cada um por si que Deus tem muito mais o que fazer. Fazendo é que se aprende, errando é que se arrepende, pendendo é que se converge, convergindo é que se discrepa, discordando é que se pratica a democracia. Viu só como não é tão difícil¿ É tudo uma questão de tempo. Tempo pra tudo. Pra viver, pra correr, pra chorar, esquecer, aquecer, aquiescer, aqui e agora, dentro e fora, piora se não melhora, perora se não ataca, assaca se não ensaca, emplaca senão empata, empaca senão desanda, anda que atrás vem gente, usa a mente, racionaliza, raciona, raciocina, cumpre a sina, rouba a cena, encena o ato, atocha a tacha, revoga a taxa, atarraxa o parafuso, parafusa a crença, cresça e apareça. Nem tudo é o que parece, nem tanto é o que se merece, nem todos carecem de tanto, no entanto, quanto mais se tem mais se quer, sequer, se olha para trás, quem tem menos quem tem mais, quanto faz. Faça o que for preciso, precise na pontaria, aponte as patifarias, partilhe seus motivos, compartilhe seus arquivos, libere as fantasias e liberte os fantasmas. Torne público seu privado, privatize seus proventos, provenha as necessidades, prive-se das nescedades, previna-se das maldades, maldiga adversidades e divirta-se à vontade, que a vida é longa, mas a morte acerta.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Devolução

DE VOLTA

Insanidade tem cura. Quem procura nem sempre acha, a sorte enxerga, a justiça não é cega, a premissa é sempre falsa, a farsa nem sempre engana, a força emana do fogo, a fuga advém do medo, medra o capim no pasto, o pastor guarda as ovelhas, o castor as avelãs, a lã tece o cobertor, o fã interpreta o ator, o guarda interpela o infrator, o pele vermelha escalpela o invasor, o cara pálida se refestela no papel de mocinho, na capela o coral canta à capela, na lapela um cravo vermelho, no espelho uma imagem desfocada, a conta bancária desfalcada, uma facada nas costas, uma fachada atraente, uma traição perdoável, uma atração resistível, tração nas quatro rodas, torção no joelho, tostões na poupança, alta tensão, tesão de urina, buzinas silentes, solerte atitude, testemunha conteste. O começo, o meio e o fim estão invertidos, convertidos em fim, começo e meio. No começo os meios não justificam os fins. No fim, meio e começo têm o mesmo fim. Assim vai-se banalizando a vã filosofia, o vau do rio, o vão da porta, o cais do porto, o caos universal, o inverso natural, a torcida na geral, o líquido total, a liquidação final, finalmente anunciada, amaciada pelo preço módico, modificada pelo apreço pródigo, protraída pelo crédito fácil, facilidades inéditas, futilidades indébitas, débitos e saldos, soldos solventes, sorvete de leite, lata de cerveja, cereja em calda, caldo de piranha, picanha na brasa, abrasado amor à primeira vista, horizonte azul a perder de vista, vistas grossas para o fracasso, vastas expectativas de sucesso, sucessivas e gradas lembranças. Quase uma loucura.

domingo, 18 de novembro de 2007

Distâncias

FUI

Caranguejo é quem anda para trás, quanto faz, o importante é chegar lá, mesmo que lá esteja além do muro, aquém do futuro, a quem possa interessar, de quem possa depender, quem pode pode, quem não pode finge ou foge. É assim mesmo, aqui mesmo, o mesmo banco, mesmo que o caixa não pague o seu cheque, que um cheque-mate interrompa seu jogo, um balde de água apague seu fogo, seu rogo não alcance o milagre, sua logo se perca entre as marcas, suas parcas chances se esgotem, sua pouca coragem não ouse, vai que ainda é melhor que voltar. Limpe a sua ficha, feche sua guarda, guarde seu segredo, segregue seu lado bom, sonegue seu imposto, renegue seu passado, prorrogue sua dúvida, duvide das dádivas, divida o passivo, passe a vez. Vez por outra esqueça que existe dor, desaqueça seu calor, aqueça seu clamor, reclame seu direito, proclame seus defeitos, defenda-se dos rejeitos, rejeite o fato consumado, aceite o prato mais consumido, apareça se estiver sumido, desapareça se estiver sendo procurado, procure se tiver curiosidade, cure se tiver o remédio, remedeie o incurável. A incúria é o segredo do fracasso. O primeiro passo é o destino das grandes jornadas. As distâncias são menores quando medidas pelo pensamento. Penso, mas certamente existiria da mesma forma, teria o atual formato, curtiria o barato, cumpriria o trato, tiraria um retrato, retrataria o fato, apuraria o olfato, evitaria o assalto, saltaria o pulo do gato, soltaria o grito mais alto se não tivesse que pensar no pênsil da ponte, no monte de títulos a quitar, no que tenho de saídas a encontrar, nos desencontros a contornar, os contornos a atalhar, os atilhos a amarrar, os entulhos a preservar, os entalhes a gravar, os detalhes a expor, a exposição de motivos, a motivação da paz, a cavação das pás, a justificação do pós, a obsessão pelos prós, do venha a nós sem os nós, na foz do rio mais largo, no cargo mais importante, na porta mais segura, na secura mais cruel. A gente segue em frente até que a morte nos separe.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Amplexo

PONTO & VÍRGULA
A reta pode ser o caminho mais distante entre dois pontos. Nem tudo é relativo. O relato, o retrato, o retrátil, o refratário, o santo no oratório, o orador no parlatório, o doador no hemocentro, o pai-de-santo no centro, o coentro no condimento, a previsão do tempo, a provisão do templo, o exemplo de retidão, a retenção da ganância, a gana por grana a mais, a paz na mira da arma, almas penadas deambulando, diatribes contestando a contextura geral, tribos se inserindo na conjuntura atual. Tudo absolutamente fora do normal, ilegal e nutriente. Quem não chora não mama, quem não mima não nana, quem assobia não chupa cana. A lei é do mais forte, má sorte também sorri, ri melhor quem ri primeiro. Primeiro os idosos, as grávidas e as crianças. A esperança dura uma eternidade. A eternidade é etéria, a fêmea é estéril, a fama é efêmera, a efeméride é histórica, a história não é como se conta, a conta é para ser conferida, com ferida ou sem lesão, ilesa ou acometida, inserida no contexto, rescindida no contrato, contrastando com a razão, raciocinando em bloco, barrado no bloqueio, bloqueado para este tipo de ligação, ligado no que não vê, vedado para menores, vidrado nos pormenores por menor que seja o caso e por maior que seja a culpa. Culpado ou inocente não nos compete inculpar, nem inculcar o delito prescrito para delatar o dolo reincidente por atroz ressentimento. As voltas que o mundo dá não voltam, as mágoas mesmo afogadas resistem, as feras quando afagadas atacam, as feridas cicatrizadas ainda ferem. Os pardais estão pintando as penas. É uma pena. Como são lindas as penas pardas do pardais.

sábado, 3 de novembro de 2007

Complexo

FIM DE LINHA

Se você tem uma saída para o beco, uma beca para a festa, um bico para piar, uma boca pra beijar, um bocó para enganar, uma cumbuca pra meter a mão, uma mãozinha pra dar, um dedo para apontar, um dado para arriscar, um risco para correr, um corrimão para amparar, uma arma para disparar, um disparate a cometer, um boato a comentar, uma comenda a preencher, um preço a pechinchar, uma pechincha a dispensar, uma despensa a prover, uma prova a superar, uma super ação a mostrar, uma pequena mostra do que é capaz de fazer sem saber, faça-o na calada da noite. A noite é uma criança que vê tudo às escuras, tudo que não mata cura, mesmo a mezinha mais cara ou a lua mais clara, a velhinha mais preclara, vale a pena a escuridão. Que seria da luz ao final do túnel não fosse a escuridão? Se você tem um atalho seguro para a próxima curva, tome-o como se tivesse sorvendo um bom vinho. Hoje os atalhos andam tão falhos, com tantas folhas em branco, que para ser franco, preferível é o caminho pisado, o peso pesado, o piso encerado, a pose ensaiada, o passo apressado, o preço ajustado, o apreço notado, o aprisco amparado, o amparo legal, o clorofórmio fecal, o sigilo fiscal, o singelo amor filial, a matriz de todos os matizes, a matança de todos os pássaros, os passos de todas as pernas, o esquivar-se de todas as pernadas, a penada do juiz, o giz dos riscos, o risco de pecar, a picada da cobra, a chifrada da cabra, a quebra da safra, a queda da bolsa, a bolsa ou a vida. E daí, encontrou a saída?

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

A nexo

VOLTANDO ATRÁS

Sou dono do meu nariz, aprendiz de feiticeiro, o primeiro a reclamar. Quem chora é porque não mama, quanto mais mama mais quer, quem quer sempre dá um jeito de encontrar uma teta vaga, uma viga mesmo deitada, uma vogal mesmo muda, uma mudança de rumo, um ramo pra se benzer, um remo pra navegar, uma estrofe pra rimar, um remorso pra ruminar, um amor para esquecer, um edredom para aquecer, tudo de bom para aquiescer, um som para curtir, um curta para assistir, uma carta para avisar, um aviso pra sair, uma saída honrosa, uma honra em receber, um recibo assinado em branco, um negro assaltado no banco, um banco vazio na praça, preço maior que a inflação, dor menor que a inflamação, calor de quarenta nem corumbaense agüenta. Meu nariz não é mais aquele. Não decide seu destino, não destina seu querer, nada do que quer alcança e até mesmo a esperança está tendo que esperar. O tráfego de influência está totalmente congestionado. A ponte para quem indica ruiu, a fonte dos que ficam secou, o fundo do saco furou, o furor dos excluídos se alastrou, o tapete alguém puxou, o topete baixou sozinho e o solzinho da manhã não deu nem pra quem precisava. Devagar com o andor que o santinho é de pau oco, que o mouco está ouvindo, o louco lucidou, o lúcido endoidou de vez, a fruta madurou, a truta engoliu a anzol, a treta está armada e trota quem não galopa. Galo que não canta cai do poleiro. Sabiá que vai buscar capim perde o ninho pro chupim. Tudo pode ser resumido em um trocadilho infame, numa palavra que inflame, um enxame alvorotado, um exame negativo, um exímio jogador, um acérrimo arrazoado, uma razão para se arrepender. Eu, com certeza, não faria tudo outra vez.

sábado, 13 de outubro de 2007

CAPÍTULO I

DE VOLTA

O mundo é uma novela. Uma novela é um novelo, na vala da paixão, no vale de lágrimas, na vila imaginária, da imagem milagrosa, do milagre suspeito, suspensos os padrões, padronizados os refrões, refreadas as paixões, rareados os limites, limitadas as convenções, convertidos os ateus, invertida a moral, moralizado o bacanal, o bacana desmoralizado e todos felizes dez anos depois no último capítulo. O fim da novela é sempre o começo de outra. Começa na segunda termina na sexta. Sábado repete o final. Domingo a tv capitula. Não tem capítulo nem recapitulação. No lugar da outra ficção tem o Gugu e o Faustão. Bom mesmo era o Show do Milhão. Afinal, a televisão é apenas um eletrodoméstico como qualquer outro ou é a maior invenção do planeta? O Gutemberg inventou a roda. O Lula inventou o avião. Teria sido o Roberto Marinho o inventor da televisão? Há quem jure que foi o Edir Macedo. Mais cedo ou mais tarde, a quebra do sigilo fiscal, bancário e moral há de indiciar o vilão da novela, acender uma vela no rastro do delito, deletar os arquivos, deleitar os carecidos, encarecer o retorno, encarar o embaraço, desembaraçar os braços, abraçar o princípio, abrandar o precipício, precipitar o sorriso. Que seria do pranto certo não fosse o riso aberto, fechado às aflições, recoberto de emoções e movido a pretensão? Por que o mundo é assim tão chato? Seria a forma achatada da terra, a guerra e seus heróis, a guelra do peixe-boi, o boi bandido, o boss banido, o pós pago, os prós impagáveis, os pré-datados, os bem dotados, os mais notados, a nota vermelha? Não coloco a mão fogo, não arrisco a fé no jogo, não rogo nem renego, paro pra manter a calma, rezo pra salvar a alma, faço tudo pelas palmas ao galã de duas caras. Você anda assistindo muita televisão ultimamente.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Os fiéis

DONO DO MEU MANDATO

Sou fiel aos meus princípios, meio e fim, ao meu partido repartido, à minha parte no bolo, ao meu bolo de mandioca, meu pacote de pipoca, o retiro na biboca, a porção de paçoca, o esplendor da pororoca, o temor à voçoroca, o instrumento que se toca, o momento de prazer, o prazo para pagar, o colírio pra pingar, o delírio pra gozar, gozar o feriado, o mugunzá requentado, o ganzá agitado, o ganso ensopado, o guizo sacudido, o saco sem fundos, o fundo de pensão, a fenda na barragem, o fim do mundo. Afinal, de quem é o mandato? É do partido que elege, do candidato eleito ou do eleitor que vota por um discurso bem dito ou um bendito par de botas, uma promessa de bosta, uma posta de alimento, elemento essencial, essência natural, exigência duvidosa, dúvida não esclarecida, dívida multiplicada, dadivoso amanhecer? Sou fiel aos meus, os seus não sei, aos seus não serei. Fiel por lei, lei da fidelidade, dura lex. Lei do cinto de segurança, do cinto de castidade, lei de Deus e lei do diabo, do pepino, do quiabo, do menino, do mancebo, do que dorme cedo e acorda tarde, da labareda que arde, do covarde e do ousado, do usado e do novo, do povo e do indivíduo, do indiviso e do fendido, do fedido e do fragrante, do flagrante e do remoto, do remorso e do perdão. Sou fiel ao mel e ao fel. Ao mel que lambuza, ao fel que se obriga, ao céu que abriga, à briga perdida, a braga rompida, a braguilha aberta, abertura indiscreta, fechadura emperrada, fortuna enterrada, fartura interrompida, gosto estragado, estrago reparado, encargo completado, completo abandono, completamente errado, erado no tempo, ajoelhado no templo, chegado no campo, suado no trampo, fechado com tampa, estampado com selo, selado com zelo, zerado outra vez, rezerado. Enquanto a lei não é regulamentada vou sendo fiel à minha infidelidade.

sábado, 29 de setembro de 2007

Acidental

OFICINA
(nos vinte anos do acidente de Goiânia)
O liquidificador de hélices novas solidifica o líquido. Liquida a essência natural a lâmina mortal do trator esteira, estirando na impiedade do operador, a morte dos guavirais, o extermínio das capivaras, o silêncio da seriema, a rarefação do ar, a intensificação do aquecimento global. O globo da morte e suas motos amestradas, sincronizadas, dividindo harmonicamente o espesso espaço da vida. A nave rompe a camada de ozônio, zoneia o espaço celeste, celebra a conquista do universo, babeliza dialetos e línguas, reduz planetas inteiros a simples satélites, simplifica constelações, desvenda mistérios sondáveis. O motor adiabático hiperflex, multiuso, gasolina, etanol, biodiesel e bosta de bode, arrosta as curvas da rota e arrasta o mundo com seus HPs. O velho tear tece sem pressa no ritmo dos pés vestes vistosas que logo são andrajos vestindo andarilhos. O jovem PC com tela lcd, hd de mil gigas, memórias infindas, monitor de tv, em standby na fila do beckup. O pickup inservível, servindo de peça de museu, ainda toca o lp e até o disco de 78 rotações. Toca ao passado, passa batido, perde o sentido, ressente o antecedente, precede o futuro, procede o presente, prossegue, tropeça e na pressa, não aprende parar e pira de vez. É a vez do monjolo dançar no ritmo das águas, subir e descer, bater e amolecer, arrefecer a fome, amortecer o choque, compensar o cheque, contentar o chefe, dar o xeque-mate, matar a saudade dos tempos de roça, de vidinha ruça, no tempo e na raça, na reza pra chover, não pagar para ver. O mais pesado que o ar, arquejando autonomia, voando acima do condor, imponente, conduzindo gente, indiferente aos perigos do infinito ínfimo, atravessa o céu no seu vôo mágico, capaz de prever as próprias tragédias. Um anacrônico aparelho de radioterapia, aposentado pelo desuso, mumificando em seu sarcófago sagrado, violado libera o césio 137, a maldição da máquina.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Confissões

DE AMOR E DE ÓDIO

Do que amo o que mais quero, do que quero o que mais sei, do que sei o que mais desconheço, do que desconheço o que menos mereço, do que mereço o que não agradeço, do que agrado somente o começo. Começo sempre no meio, como primeiro o recheio, somo só o lucro, tomo somente o suco, saco o lance, engulo seco, encho o saco, mexo os pauzinhos, pauso o play, conto o causo, caso os detalhes, acuso o acaso, escuso o descaso, caso e descaso, calço e descalço, descasco o abacaxi, abaixo aqui e ali, aquilato o saldo, saúdo o rival, rivalizo o igual, igualo o diferente, defiro o impróprio, me aproprio do alheio, me alheio dos fatos, amealho antipatias, ameaço romper, rompo a ameaça, misturo a raça, afugento a caça, caço chifre em cabeça de cavalo, a pé ou a cavalo, cavalheiro vou tocando meu berrante, soltando meus berros, trançando os bilros, amansando os burros, amassando o barro, acelerando o carro, carreando prejuízo, perdendo o juízo, ajuizando a ação, acionando o síndico, ovacionando o cínico, ovalando o cilindro, revelando o segredo, decretando o degredo, aceitando o agrado, atraindo o malgrado, traindo o amigo, causando desgosto. Assim é a vida, sem tirar nem por, chorar e sentir dor, carregar o andor, descarregar o peso, libertar o preso, apressar o passo, passar despercebido, passar a bola, depreciar o belo, desviar a bala, rasgar a bula, resgatar o ritual, aceitar o trivial, açoitar o diverso, acoitar o adverso, alcovitar as amizades, subornar o justo, justificar a culpa, inculpar os retos, desculpar os ímpios, parear os ímpares e empatar a partida. Do que odeio nem cabe aqui.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Epopéia

GORANDO

A Via Láctea é lactante, latente, visível a olho nu, acessível a todos os poetas, previsível aos profetas. A Via Láctea é obvia, mas não infinita. Tem começo, meio e fim. É como o arco-íris com suas cores indecifráveis, infláveis, biodegradáveis, suaves, saídas do chão, caídas na mão, escolhidas a mão, manuseadas com os olhos, olhadas com desdém, desenhadas com a luz dilúcula do entardecer. Antes tarde do que nunca. Nunca é tarde para ligar a lâmpada do final do túnel. Sempre há uma última gota no fundo do tonel, um camisa dez no plantel, uma pauta em branco no papel, uma flauta doce na sinfonia, uma malta aberta à desordem, uma mata fechada, uma fachada suspeita, uma meta não alcançada, um mito desfeito, um moto em falso, um mútuo refeito, o defeito insanável, o insano agressivo, o engano não explicado, a explicação difusa, a difusão confusa, a confusão generalizada, a honra desvirtuada, as horas paradas, a parada obrigatória, obrigado a calar, abrigado do frio, afogado no rio, perdido na rua, achado no palheiro, emparelhado na raia, raiado na barra, barrado no baile, birrado com o burro, burradas a parte na parte que me toca. Não há santo no inferno mas há flores no inverno. Não há mal que sempre dure. Nem o firmamento é eterno. O terno nem sempre é estimável. A estima estigmatiza. O astigmatismo afigura a imagem. A imaginação é uma ave de quatro asas, uma rua sem casas, uma casa sem piso, uma pisada na bola, uma bolada perdida, uma perda irreparável, uma reparação compelida, a compleição natural, a perfeição desejada, os desejos frustrados, os frutos maduros, os furtos abjetos, os objetos em desuso, o useiro e o vezeiro. As palavras são uma ciência exata.
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sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Via Sacra

GERINDO
Um sem rumo sem prumo, sem sumo, impróprio para consumo, próprio pra confundir, direto dos cafundós, repleto de dó, completo de dor, perplexo diante do, circunflexo perante o, reflexo de conflito, espectro de medonho, espectador enfadonho, despertador importuno, devagar e nem sempre se é assim que tem que ser. Não sei você, mas se depender de mim, vai continuar a dependência, a desavença, a descrença, a repetência, a incompetência, a indiferença em suas mais diferentes versões, os versos e suas impertinentes versificações, as verificações e sua imutável rotina, a diversificação e seus repetitivos tons, a verticalização horizontal, o vértice em vórtice, a sorte às avessas, as promessas vazias, o vaso esvaziado, o vezo imitado, o viso alquebrado, o visto negado, o Cristo traído, a crista caída, o cristal quebrado, o mistral rarefeito, o suspeito do crime, o recheio impreciso do creme, o enleio profundo do fraco, o teor duvidoso do frasco, a cor cinza do afresco, o desconforto do aprisco, o latejar do quisto, o escorregar no xisto, o apagar das luzes, o detonar das bombas, o ribombar sombrio dos bombos, o ressoar sem brio dos tolos, a ponta aguda dos talos, o molestar dos calos, o calar dos justos, contabilizar os custos, desdoirar o casto, emborcar o cesto, desembocar o rio, desbocar o riso, desfocar o raio, destoar o ritmo, destronar o rei, vegetar no reino animal, vergastar o inimigo mortal, imortalizar o castigo eterno, entronizar a mediocridade. De vez em quando é bom parar pra pensar.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Mea culpa

GERANDO
Um grito grato e cheio de razão desengravida a prenhez prenhe de esperança. Um belo nome, uma baita fome, uma luz no final do túnel, um beco sem saída, uma mão que saúda, uma saúde de ferro, uma vontade ferrenha,uma saudade indolor, uma maldade incolor, as cores eternas de um minuto de felicidade. O sorriso é a chave do paraíso, para isso é preciso precisar e ser preciso ao pedir e ao negar, regatear ao negociar, negacear ao entregar, intrigar o intrincado, destrinchar o embaraçado, embaçar a polidez, polir as grades, subir ao grid, remover o grude, descolar a grana, tomar até ficar grogue. Quem pode pode, quem sobe desce, quem cresce diminui, quem flui retrocede, quem cede recupera, quem supera surpreende, quem separa simplifica e sempre fica inferior. Nada como um dia atrás do outro, outras manhãs sombrias, outras tardes entediadas, outras noites assombradas pelas sombras do passado, pelas sobras da ração, pelo raciocínio lógico, pela lógica do caso, a casualidade do encontro, o desencontro das partes, a repartição do porte, a liberação das portas, a emissão ao portador, a remissão dos pecados, a rendição dos pacatos, a rescisão dos contratos, a consolação dos contritos, o pactuar dos conflitos, o patuá dos aflitos, o comungar dos fiéis, o viés do caráter, os caracteres da impressão, as impressões digitais, as imprecações vulgares, as imprecisões normais, as normas legais, as formas definidas, as formas modelares, os fornos aquentados, as furnas recônditas, a certeza da morte, a única certeza.

domingo, 16 de setembro de 2007

Cactus

GERUNDIO

GERUNDIO

O espinho que fere a mão desavisada é o mesmo que avisa à planta da presença do predador. O odor da flor, a dor do espinho, o calor do carinho, sozinho ou seguido, ferido ou curado, parado ou seguindo, pedindo ou negando, chorando e sorrindo, cantando a canção dos mortos, respeitando a direção dos fortes, reportando a ambição dos fartos, reputando a transgressão dos furtos, refutando o reajuste do preço, a importância e o desapreço, o endereço e o incerto e não sabido. Quem não sabe, ignora, quem ignora sabe o que está perdendo, perde-se e ganha, se bate e se apanha, se divide ou se apinha, divida-se, endivide-se e na dúvida ultrapasse. Do lado de lá não é possível saber de que lado a gente está. Se no certo ou no errado, no erado ou no recente, no recinto ou no espaço, no espaçado e no espesso, no convexo e no côncavo, no aconchego e no sereno, serenado e no agito, ágil, frágil, durável e perecível. Parece mais ou menos, parece mas não é, pereceu mas não foi, apareceu, não foi notado, anotou e esqueceu, esfriou e aqueceu, aquiesceu e se deu mal, maldisse mas não pegou, pagou e recebeu, recobrou o sentido, sentou na jaca, acertou uma joça, aceitou o resultado da resolução recente e ressentido recolheu-se à sua insignificância, até entender que nunca passou do menor tempo do verbo.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

A história se repete?

À MARGEM

A cena política brasileira me deixa perplexo. O espírito de corpo da classe política, o espírito de porco dos políticos, a política sem classe, as lições não aprendidas na classe, os temores eximidos, o furo n’água, os clamores olvidados, os ouvidos moucos, o soco no ar, os ares conspurcados, os olhares apáticos, o silêncio tático, a sessão secreta, o voto secreto, o veto vetado, o vulto sombrio de uma crise sem sombra de dúvida. Meu próximo voto vai ser aberto, arreganhado, para que todos saibam o que eu deveria saber, para que ninguém duvide do meu saber e me convide para acertar sobre os rumos da prosa, os ramos da planta, os remos da canoa, a rima dos versos, o verso da página, o reverso da medalha, o conserto da falha, a meiguice da feia, o afeto da filha, o viço da folha, o vício entranhado, o estranho no ninho, o ninho de cobras, o aprisco de cabras, o cabra da peste, a peste inoculada, a virgem maculada, a vertigem cabal, o cabide de emprego, o cabedal do currículo, o círculo vicioso, o cálculo renal, as renas do Papai Noel, as cenas de horror, as penas do condor, o penar do cantador, o empinar das patas, o acreditar em petas, o cerrar das portas, o colorir das tintas, pintando os canecos, armando o barraco, embarrancando a ladeira, ladeando o líder, liderando jogadas, jogando na sorte, tirando de letra, escrevendo e não lendo, revendo o futuro. E o presente? Não terá sido melhor o passado com seus antigos ativos e desativados? Da próxima vez também vou me abster.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Pé na estrada

SEGUINDO

Há ainda uma longa estrada a percorrer, uma interminável escada a descer, uma ladeira íngreme para subir, uma esteira estirada para deitar, uma história comprida para contar, uma promessa cumprida a cobrar, uma cantiga antiga para cantar, uma fadiga crônica para curar, uma medida extrema a tomar, um estigma a desfazer, uma estima a refazer, uma prima a afinar, um afano a evitar, um ufano a proclamar, uma proclamação de triunfo, um trunfo a descartar, um descarte decisivo, uma decisão fatal, fatalidade letal, fertilidade fetal, formalidade expressa, fornicação repulsiva, futilidade geral. A curva é quem dá forma ao anzol, a nuvem é quem transforma a luz do sol, o rol é quem dá ordem ao pedido, o perdido e o achado, o plano e o achatado, o chato e o prudente, o por dentro e o alienado, o sedento e o saciado, o saci pererê, a mula-sem-cabeça, as pernas curtas da mentira, o fio de barba do tratado, o trato nos fios de barba, o prato cheio, o pato feio, o relho do arreio, o arreio do rei, os raios de luz, os rios poluídos, as ruas desertas, as luas sonolentas, os lares desfeitos, as luzes apagadas, as cruzes anônimas, acrônimo de amor e paixão, sinônimo de acérrimo, antônimo de acréscimo. No contexto, eu seria apenas o reverso de um verso.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Umidade relativa doar

PLENILÚNIO

As aparências não enganam, as experiências não ensinam, as pendências não pendem, as tendências contaminam, as carências encarecem, as estradas determinam o rumo a não seguir. Não sei se sigo, se paro, se caro não compro, se barato não vendo, no claro não vejo, no escuro só vendo, sorvendo as sevícias, tecendo as premissas, premendo o saber, sabendo o possível pra subsistir vai-se levando, louvando levezas, lesando terceiros, legando pobreza, ligando a esperteza, logando a tristeza, alugando a cabeça dos incautos, alegando cansaço, alijando embaraços, embaraçando o baraço, estendendo os braços para o céu-da-boca, abocanhando as sobras do mel, melando o jogo com a carta marcada, marcando o logo com uma vela apagada, apagando o fogo com uma gota d’água, afogando as mágoas com com uma brasa viva, revivendo a vida com indiferença, reavendo a lida por necessidade, lambendo as feridas, ferindo a fera indefesa, inferindo a frase feita, indeferindo o pedido, pedindo pra não ficar, fincando o pé pra não sair, saindo pela emergência, emergindo da fumaça, fumegando pelas ventas, soltando ventosidades, ventando verbosidades, inventando a roda, recriando a moda, replantando a muda, mudando o roteiro original, originando a dúvida, dividindo o dote, adotando o filho, admitindo a falha, queimando a folha, folheando o livro, livrando a larva, lavrando o solo, lavando a alma, louvando o Deus que me resta.

domingo, 9 de setembro de 2007

Conjugação

FUTURO DO INDICATIVO

Esta era pós-industrial já era. Vou fazer um becape e logar um lugar ligado ao pós-web, sem msns, e-mails, bonitos e feios, adornos e recheios, senhas e sinais, hackers e vírus, spams e zips. Vou arquivar a banda larga, zapzapear meu site, encostar meu zip socket, mandar pra lixeira o txt, o provedor, o servidor, a conta de luz, o imposto de renda, os pontos de venda, as vendas online, o playlist, a notícia em tempo real, o dólar, o euro, o real. Desativar a contagem dos kbps, as comunicações assíncronas, as LANs, o language processor, o laptop e o velho studebaker. Deletar o DNS, o Inss, o icms, o mpeg, pegar o gif pelo rabo, dar cabo ao galliun arsenide, roubar peças do robô, escanear o futuro, sacanear o Bill Gates, silenciar para sempre o vale do Silício. A pós-web será uma era sem eira nem beira, com café quente na chaleira, taças de chope, sem chips na placa, inter-record gap no intervalo, caixas comutadoras, conversores digitais, dígitos a mais, mais ou menos analógicos, anacrônico html, dispensável upgrade, superável update, imemorável download, imprestável upload, detestável URL. A era pós-internet será o caos remunerado, o ócio renumerado, o número adulterado, o adultério combinado, o aborto legalizado, o homicídio descriminalizado, o crime permitido, a permissão cancelada, a cancela semi-aberta, a abertura sofrível, o sofrimento saudável, a saúde indestrutível, a destruição tangível, o fim da poluição, a emoção sem fim, finalmente a luz do sol barrando o arrebol. O início da nova era será a primavera. A primeira coisa que vou fazer é demitir meu webmaster.

sábado, 8 de setembro de 2007

Manifesto

NEO-OBSOLETISMO

Meu estilo, estiolado pela estiagem de erudição, é um estalo. Gera-se, geralmente, em generalidades. Um estalido atávico, ataviado por termos infundáveis, uma infinda fieira de palavras sem nexo, reflexo da demência que assola da sola à cachola, da irreverência que rola, faz escola, escala a parede, estala o ovo, escala no vôo, escalada pro jogo, sapecada no fogo, sopesada na corda, acordada do sono, somada ao total, totalmente anormal, geralmente animal, dificilmente animado, comumente inanimado. Meu estilo é uma estola que dissimula a verdade, reverbera ilações, verbera versões, verseja o inútil, utiliza jargões, inutiliza padrões, padroniza a cupidez, encomprida a conversa, desconversa, desconecta, desconta, desconfia, desafia, desafina, afronta, desafronta, perde a conta, desaponta, aponta o descaminho, caminha na ponta da faca, cai ao peso da saca, sobrevive de patacas, sugere patacoadas, infere estupidez, interfere no bom senso, sanciona o sensacionalismo, seleciona o anacronismo, sintoniza o obsceno, obsta o lugar comum. Meu estilo é um estímulo à ignorância substantiva, à arrogância verbal, à verbalização adjetiva, à petulância fonética, à ambigüidade formal, às formas mais corriqueiras, às normas menos normais, aos nomes mais singulares, às notas mais dissonantes, às rotas mais sinuosas, aos sinos mais badalados, as sinas mais catastróficas, os sinais todos fechados, os fechos todos abertos, todos becos sem saída, as feridas inflamadas, as cantigas enfadonhas, as notícias infundadas, a malícia difundida, as defesas combalidas, as despesas desmedidas, as receitas bloqueadas. Meu estilo não existe. Meu estilo é um ex-tilo.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Cívico

FERIADO

Vamos deletar o texto, criar o pretexto, afinar o protesto, juntar os restos e desfilar as liberdades plausíveis, aplaudir os guardiões de nossas liberalidades permitidas, permitir as conjunções verbais, verberar as permissões permissivas, permanecer intato, com teto, sem tétano, a título de, com o total calculado e o tutano total. Não é hora para chorar o leite derramado, o peixe escapado, o cheque não compensado, o chique não alcançado, o choque desprevenido, o chute da bola na trave, o agudo e o grave, o grave e o informal, o útil e o desagradável, o biodegradável e o saco plástico, o descartável e o bem durável, o reciclável e o lixo nuclear. Quando não se trabalha, se desfila em fila a folha corrida, a falha corrigida, a filha adotiva, os dotes inatos, os ditos inúteis, os dutos fechados, as putas fichadas, as portas abertas, as pernas cansadas, o pito apagado, o pinto incitado, o pato caindo, o peito caído, o preito indeferido, o trejeito suspeito, a prova dos nove. Desfile seu ódio, desfolhe seu tédio, encubra seu fraco, esvazie seu saco, engula em seco, desfeche um soco, saboreie este suco, sucumba diante das provas ou prove o contrário. Contra a força fraca o argumento forte, contra o forte a sorte, o corte a sutura, a corte o capricho, o lixo o asseio, o assado o assim, o afim o desafinado, o fim o começo, o começo do fim. Afinal, nós viemos aqui pra ver o desfile ou pra desfilar?

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Sem querer

CHEGANÇA

Não ponho minha mão no fogo pela verdade do Lula, a vaidade e a gula, o abade e a mula, a validade da bula, o milagre da cura, a caridade papa, a substância da papa, as evoluções da pipa, a revolução do pop, os juros da poupança, os jarros de flores brancas, os jorros de águas mornas, os giros que a terra dá, os jiraus que dão altura, o sabor da aura pura, o papel da capa dura, a durabilidade da fé, a fé que move montanha, a boa-fé e a patranha, o medo e a façanha, o que bate e o que apanha, alisa e arranha, amolece e assanha, a sanha e a sina, assina em baixo, em cima e embaixo, na tina e no tacho, no facho de luz, no feixe de lenha, na ficha do caixa, na caixa econômica, na economia formal, na forma da forma, no forno apagado, na furna escondida, no esconso tranqüilo, no trapo emendado, na trempe segura, no triplo assegurado, no tropel da tropa, no troféu da copa, da proteção da capa, nas reinações do capeta. Eu creio no que não vejo, leio o que não foi escrito, do feio faço bonito, do bonito faço a cor, desfaço a dor, adormeço. Acordo de acordo com os acordes dos pardais, levanto com o sol levante, na rota traço a rotina, na reta faço os atilhos, na curva os atalhos, no lixo o entulho, na madeira o entalhe, no arquivo o encalhe, na falha o conserto, na sala o concerto, na tese o conceito, nas fezes o exame, nas fases a força, nas faces o vigor, na frase o clamor, no fisco o rigor, no friso o louvor, no fuso o horário, confuso, confesso, este itinerário entre o sair e o chegar. Por onde saio?

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Meus tipos inesquecíveis

CONSELHEIRO ACÁCIO

Conclusões acacianas: todos os rios correm pro mar, todos os mares marulham, todos os fogos fagulham, nos jogos perde-se ou ganha, na manha fica mais fácil, difícil é levantar de manhã com o pé direito, não pisar na bola, não dar bola pro azar, não assar e nem cozer, rasgar e não coser, cozinhar em fogo lento, soprar com a força do vento, cem por cento natural, outro tanto cultural, com um misto de caboclo, um pouco de castiço, casto de malícia e sem pecado original. Sempre que não me acho recorro ao conselheiro Acácio. Ele é óbvio, mas é sábio e conserva em seus alfarrábios saberes acumulados do futuro e do passado, como se fosse a própria ciência, ciente até do casual, semente do bem e do mal, temente a Deus e ao diabo, carente que nem criança, corrente que nem boato, parente igual pai e mãe, torrente tal multidão, torrado tal qual rapé, parado feito um mané, encimado num boné, mal passado como um filé, mais alegre que pinto em merda, mais faceiro que bode embarcado. Se fosse uma flor o Acácio talvez não fosse uma cássia. Está muito mais pra maria-sem-vergonha ou mesmo bem-me-quer, flores que dão no chão, rosa, jasmim, lírio, margarida, favoritas, preferidas, coloridas, perfazendo buquês, perfumando ambientes e ataviando ataúdes. Há flores para tudo, para abelha e marimbondo, para são e moribundo, raso e fundo, vazio e profundo, franzino e rotundo, serenado e furibundo, diligente e vagabundo, pro começo e o fim do mundo. Este é o Acácio, qualquer dia desses quero lhe apresentar o Sabino, bom menino.

sábado, 1 de setembro de 2007

Vocações provisórias

POR POUCO

Eu teria sido um poeta se tivesse rimado a estrofe e completado o soneto. Quebrei o pé do verso, inverti o mote, perdi a glosa e o que seria poesia virou prosa. Admirável mundo dos repentistas. De repente, um repente em linguagem coerente, com pingos e acentos, movimentos ritmados, temática recorrente, gramática concernente, inspiração desconcertante, um concerto a céu aberto, conceito de errado ou certo, de longe e perto, latente ou desperto, patente ou incerto, ligado ou disperso, único ou diverso, côncavo e convexo, do universo e da tribo, estribado no estilo e no estalo, em estado de graça, no humor e na desgraça, no salão e na praça, no peito e na raça, como vier. Não sou poeta e muito menos repentista, mais ou menos contador de velhos contos, cantador de moda nova, encantador de serpente, enquanto a dor que se sente se vai no vai-vem da voz. Nem tanto que não possa ser tudo, nem tudo que não possa ser mais. Sou apenas um rapaz incapaz de viver em paz comigo. Mal consigo a solidão de um rosto na multidão, o anonimato de uma folha seca no mato, a insulação do prisioneiro, o desespero do desempregado, o destempero do inebriado, o apelo do excluído. Quisera ter sido um poeta de verdade, mas na verdade, não sei sequer entender os poetas. O que estará fazendo Manuel Bandeira uma hora dessas em Pasárgada? Em que lugar do Pantanal, Manoel de Barros aprendeu seu formigues? Que fim levou o Barbosires? Qual é o fim disso? Ninguém é poeta por acaso. O que diz o profeta não será alvo de pouco caso. Poesia e profecia tem tudo a ver. Ambas acham o fio da meada, o atalho na estrada, o estrado da verdade, o estrato da contabilidade, o extrato da essência, a rescindência do contrato, a reincidência do mal-trado, o dano do malbarato, o danado do saber que me falta. Ah, se meu pai tivesse tido a inspiração de fazer poesia...

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Paz e amor

TUDO BEM
Quanto mais rezo mais assombração me aparece. Minha prece parece perecer perante o preito das almas penadas, da pipa empinada, da popa aviltada, da polpa mofada, do quase nada, de tudo um pouco, lúcido e louco, maluco de tudo, atirando pedras, exaltando perdas, perdendo prazos, rogando praga, despregando prego, pregando o caos, causando transtorno, tornando difícil, facilitando fugas, fugindo da briga, fingindo inocência, fintando a moral, pintando os cabelos, falando pelos cotovelos, ralando a bunda na ponta da faca, no chifre da vaca, na lama da laca, na lona da maca, na palma da taca, no toco da tora, no juro de mora, nas juras de amor. Quem ama não perdoa, quem perdoa perde, quem perde acha, quem pede não pode, quem pode pode quem não pode se sacode. É assim que tem que ser, é no fim que cessará, é por mim que chorarás, é em chororô que dá o que se deu sem querer dar. Eu amo a flor amarela do pé de ipê, o afago do vento a bater, o fragor da panela a ferver, o fervor da crença a crescer, o frevo rasgado na rua, o favo de mel a escorrer, o favor do céu a ceder, o clamor do réu a se arrepender, a sombra do chapéu que protege, a ponta dos nós, o caroço da noz, o esganiçar da voz, o parecer do juiz, o juizo de valor, o padecer no paraíso, o incandescer da luz, a simbologia da cruz, a depuração do pus, a covardia do capuz, a ousadia do capaz, a serventia das capas, o sabor salgado das carpas, a sombra fria das copas, o conteúdo dos copos, o calor dos corpos, a fria letra da lei. Eu não entendo o que estou falando, não creio no que estou vendo, não gosto do que estou comendo, não gasto o que estou pagando, não pego o que estou querendo, não quero isso ou aquilo, não compro a quilo, não vendo no atacado, se atacado não reajo, se passado não relembro, se lembrado me comovo, se comprovo silencio. Por favor, que horas são?

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Nos bastidores

TÁ FALADO!

Eu não tenho nada com isso, não vejo nada disso, não compactuo, não consinto, desminto, desfaço, refaço, rechaço, perpasso, perscruto, permuto, permito, proíbo, probalizo, problematizo, processo, proclamo, rejeito, receito, remeto, reabro, reabasteço, reabilito, reclamo, declino, reclino, passo. Passo a vez, peço carta, descarto o ás, invejo o ás, afino o az, desclassifico de a a z, pago pra ver, pego pra sentir, sinto a dor, adormeço. Acordo feliz, felicito a paz, apaziguo os ânimos, desanimo a festa, festejo a estação das flores, floreio o verbo, verbalizo o medo, medeio o lucro, rompo o lacre, bebo o licor, abano o leque, abono o cheque, levo o choque, escrevo no pára-choques, choco o ovo, ovaciono a voz, vocifero o voto, prolifero a foto, fotografo o fato, autografo o livro, me livro do pecado, sou picado pela mosca, salpicado pelo vento, sapecado pelo fogo, sopesado pelos outros, sou pesado, reconheço, mas não valho quanto peso. Estou fora da medida, não tenho comparação, não consinto compaixão, não contenho a emoção, sempre tenho pretensão, mantenho a propensão, retenho a intenção, intento uma tentação, tento um tento na jogada, jogo a última ficha, fecho o fecho, apago o facho. Não faço mais porque não posso, possuo menos porque não peço, não estresso porque meço, peco mas não confesso, mereço mas agradeço, nego o que devo. E fecha minha conta que eu já gastei de mais pro meu tamanho.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Auto-retrato

QUEM SOU?

Sou o gênio do mal, o gene do mel, o genérico do fel, o sinônimo do espinho, o antônimo da rosa, o autônimo do delito, o anônimo feliz, o autônomo infiel, o fiel escudeiro, o novel escudável, o navio à deriva, o derivado do átomo, a tonalidade dos sons, a sonoridade do silêncio, a silepse da palavra, a palavra empenhada, o empenho infrutífero, o fruto adstringente, o luxo execrável, o luto aceitável, o lupo incurável, a cura divina, o cura grotesco, a curra maldita, o bendito-louvado-seja. Não sou o que querem, não quero o que pensam, não penso o que sou. Não compensa compendiar compenetrações difusas, incutir penetrações profundas, aprofundar-se em comiserações inúteis, utilizar-se de argumentos fúteis, futicar os fatos, abortar o feto, fatorar o número, faturar a conta, fraturar o fêmur, fustigar a fêmea, femençar o pão, semear o chão, evitar o não, não dizer que sim, não fingir que sabe, saber o possível, entender o passível, saldar o passivo, negar o passado, passar por cima, encimar os valores, valorar os sabores, saborear as conquistas, conquistar o perdão, perdoar aqueles que nos tem ofendido, fender-se em sentimentos nobres, defender com argumentos pobres, povoar de pensamentos ignóbeis, ignorar a dor da saudade. Hei você aí, por acaso sabe onde fica a porta de saída pra lugar nenhum?

domingo, 26 de agosto de 2007

Naqueles dias

STRESS

Na palma da mão, na ponta do pé, por conta da fé, por culpa da ré, na cúpula da sé, até prova em contrário sou contra. Sou a favor do favo, do fervor da reza, do frevo na rua, do trevo na sorte, da trava na língua, da língua ferina, da íngua interina, do inteiro teor interior e superior. Supero o super, superabundo o simples, sustento o sol sustenido, seguro as tarefas, seguro contra tarifas, segredo de Estado, estado de penúria, extasiado na penumbra, fantasiado de senador da república. Ré pública e privada. Marcha a ré travada, estrada encurvada, via Láctea turvada, corpo crivado de balas, baladas bem boladas, bolardas mal bulidas, testículos bolinados, desenhos reticulados, sedenho bem desenhado, sedém de crina de gado, gadelhas desalinhadas, produto fora de linha, linha dura, lanha mole, lenha ardente, linho fino, feno farto, fio grosso, grosso modo, grosseria. Nada vale a pena, nada a declarar, nada até cansar, naba a descascar, nava a contemplar, nova a proclamar, nuvens presas no ar. É assim que é, sem tirar nem por, sem mágoa e sem dor, sem dó e sem dar. Como se lê as palavras não dizem tudo.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

As grandes reformas

TUDO SERÁ COMO ANTES

É, parece mesmo que nada vai mudar. O mundo não estará girando, o mudo continuará falando, a fala não será mais ouvida, os ouvidos das paredes se farão de moucos, o surdo não se ouvirá mais na banda, o bando agirá na calada da noite. À noite nem todos os gatos são pardos, todas as perdas são grandes, grandes são nossos sonhos, maiores os pesadelos, mais pesada a consciência, desprezada a experiência, tolerada a paciência, pacificada a beligerância, estimulada a concorrência, registrada a ocorrência, ocorrido tudo nos conformes. É que o normal é o avesso, o final é o começo, começo mas não termino, no término há sempre o interregno, uma pausa para o papo sem papas na língua, uma língua morta, uma porta falsa, um falso testemunho, um copo vazio e a fumaça indecisa de um cigarro apagado. A vida se resume aos sonhos de consumo com ou sem sumo, somando e multiplicando os prós, protelando os contras, contrariando os contratos, contrastando as diferenças, diferençando as semelhanças, semeando a discórdia, descordando da verdade, verdascando as liberdades, liberando adrenalina. Espera um pouco que eu vou dar uma mijadinha e já volto.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

A lei do silêncio

NADA A DECLARAR

Se você quiser conhecer a verdade crua, desligue a panela. Se você quiser conhecer a verdade nua, tire a roupa, derrame a sopa, quebre o copo, tope a briga, empurre com a barriga, faça figa, fisgue o peixe, queime o feixe, deixe como está pra ver como é que fica. A verdade não é verde. Ver de verdade não é ver de perto. Longe disso. Quanto mais distante mais próximo. Quanto mais próximo mais próspero. Quanto mais próspero menos provecto, mais perverso, convexo, confrade nos conchavos, compadre nos achegos, com pedras nos atalhos, com padres nos altares, com massa nos halteres, no alferes e seus galões, no sagão do aeroporto, no caixão do homem morto, no conforto das alcovas, no plenário do congresso, no regresso à vida em tempo real. A verdade, nada mais que a verdade, na manchete do jornal da tarde, no álibi do covarde, no cálice da eucaristia, no texto da homilia, no vazio da noite fria, no pavio da luz acesa, no redil de cabras presas, esperando pra dar leite, na duplicata vencida, na catarata operada, na operação de somar, na conta de vezes quanto, quanto tempo aproveitado, tantas noites mal dormidas, enquanto houver vida não haverá esperança, quem espera nem sempre alcança, quem mais cansa nem sempre chega primeiro. Farinha pouca meu pirão primeiro, segundo a lei do mais forte. A sorte não se enquadra na lei das probabilidades.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Navegar é preciso...

VIVER NÃO É PRECISO

A preguiça é a maior amiga do homem, um pecado mortal, uma morte sem dor, uma dor sem remédio, um remédio fatal, um fato sem fundo, um fundo sem fé, uma fé com limites, um limite irrestrito, um resto de pão, um rasto no chão, um rosto na multidão, um traço na pesquisa, um troço qualquer, qualquer coisa que não seja cara, um coro que cante bem baixo, um couro que não dê sapato, um sapato de salto alto, os altos e baixos que ladeiam a vida. A vida é uma série de sérias circunstâncias que a gente não pode levar a sério. Pelo menos não muito. O muito sem Deus é nada. Nada desvia a trajetória de uma bala, já dizia o biógrafo do coronel Adibe. Tenho preguiça de ler, de olhar, de crer, de fazer, de pensar, de sair, de ficar, de morrer. A preguiça é uma doença. A diferença é que a doença dói. Dói no peito, no pé, na cabeça. A preguiça é pensa, não pensa nem com pinça, não pinça sequer um tento, não tenta sequer um pranto, não quebra nem mesmo um prato, não pinta nem mesmo o preto, não confere o maior preito, não consegue o menor pleito, não pleiteia o que é possível, não pranteia o que perdeu. Eu ainda morro disso.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Ignorâncias

CRER OU NÃO CRER

Eu não acredito no que vejo, vejo o que não quero ver, ver de verdade, de olhos vendados, de olhares vedados, sedados, cedidos, assediados, cagados-de-aranha. Ver tudo é virtude. Tem gente que vê pelos olhos singelos do doutor Ponglós e sente pelo coração sagaz do senador Renan. Ver e sentir eis a questão. Questionar o que vê. É assim que tem que ser. Nada é o que parece. Nem tudo sente aquele que perece. Quase tudo se merece. Cresça e apareça. Depois dos sessenta se sente idoso, inditoso, indiciado e pode até furar a fila, ocupar a calçada, mijar nas calças, calçar meias ao avesso, arrevesar a ordem das coisas, coisificar as causas, calcificar o caos, qualificar o caule, caulificar o medo, remediar os modos, arremedar o Midas, arremessar os credos, acreditar em bruxas. Eu sou um crédulo. Creio no que não vejo, mesmo que seja um simples monstro do lago de Ness ou até uma invulgar mula-sem-cabeça, destas que andam por aí batendo cabeça. Cabeça calva, salva, ligada, logada, plugada no amanhã. Quem sabe, depois de amanhã. De noite, de tarde ou de manhã, curado ou malsão, sanado ou malsinado, vacinado contra a infelicidade. O homem feliz usava camisa de marca, marcava a alternativa correta, mascava fumo de rolo, rolava de rir da desgraça, e se fosse engraçado até passava o sinal fechado. Minha cabeça acaba de fechar pra balanço.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Os azares da sorte

QUEM VAI CHORAR?

No dia em que a gente amanhece com o pé esquerdo, cruza com um gato preto e passa por baixo de uma escada não acontece nada. Nada muda o destino com o qual cada um nasce. Nascemos para o que somos pré destinados, destinados, destinatários, donatários, condestáveis do bem e do mal. Ninguém morre antes da hora aprazada. A morte não será apressada nem adiada. Chegou a hora pá bufe. Mas este é um assunto que não cabe neste espaço porque com a morte não se diverte, a Deus se converte e Adeus, depois a gente conversa. Conversa fiada não paga conta. Conta velha não se paga e as novas a gente deixa envelhecer. Envelhecer sem rugas, envilecer com rusgas, engravidar sem vergonha, gravitar sem vertigem, esgravatar com cuidado, cuidar da alma, fechar o corpo, quebrar o copo, ganhar a Copa, usar a cópia, copiar com escrúpulo, cambiar com escopo, atirar com escopeta, maldizer o capeta, pisar no carpete, pecar sem culpa. Culpado ou inocente eis a sentença. Boca grande pouca comida, sede insaciável pouca bebida, muito apressado sinal fechado. É a lei. Não confunda lei da gravidade com gravidade da lei. Lei é lei. Lei de Deus, lei do cão, lei de talião. Ta leão mas é gato. Gato não gosta de guetos. Guetos guardam guardados grudados na dor com saúde, sem saudade, no segredo, segregado, pré-moldado, previsto, vistoriado, misturado aos odores, dependente dos humores, repelente aos horrores, nos estertores da vida. Me queira bem que eu finjo que acredito. Mas não tenha pressa.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Contando as horas

O DIA SEGUINTE

Nada como um dia atrás do outro. Outro sol, outro amigo, uma página virada. Virada-da-breca, freada no tempo, cansada do trampo, viciada no craque. Craque na bola, de fraque e cartola, de cartas na manga, de mortes à mingua, de mingau e canjica, dos que vão e os que ficam, da certeza de acordar. Acordar, desacordar, de acordo, desacordo, desaforo, dez a zero. Zero à direita, conta refeita, prova dos nove, novidade à vista e a prazo. Prazo aprazado, passo apressado, peito oprimido, leite derramado, leito remido, leilão rematado, barco remado. Remado contra a maré, maré baixa, baixo astral, colesterol alto, altos e baixos, soltos e afixados, presos e libertados, acesos e apagados, acendido pelo calor das críticas, ressentido com o clamor das massas. Como recomendaria o mestre Elias Galvão: não confunda opinião pública com opinião publicada. Publicada e assinada, lida, vista e ouvida, replicada e treplicada, multiplicada por dois, dois e dois são três, regra de quatro, diabo a cinco, a três por seis, vocês sabem do que estou falando. Falando alto de altos e baixos, de muitos e poucos, mamutes e porcos, cobras e lagartos, fartos e ávidos, havidos, aviados, acidentados, acirrados e acérrimos. Acérrimos e doces como se fossem o gosto amargo que dá gosto ao chocolate, a tesoura cortante do alfaiate, o preço gritante do alface, a face oculta da verdade, a periferia da cidade. A cidade fantasma, os fantasmas do erário, o horário de acordar. Bom dia.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

NÃO QUEIRA ESTAR EM MINHA PELE


MEMÓRIAS DO JUCA GANSO

A idéia do trocadilho terminou sendo uma grande comodidade a quem tem compromisso com os espaços a preencher. Eu não ganho por lauda, portanto não preciso ser laudatório. Sou diarista e o que escrevo diariamente é quase sempre uma diarréia dialética por suas características evacuantes. Num universo diverso onde há uma multidão aplaudindo os discursos do Lula, não custa investir em vestes menos desnudas para o que se tem a dizer. Tenho dito, redito, reeditado, reescrevinhado, cravado crivos, cheirado cravo, aberto curvas, curvado ao preso dos anos, crivados de sombra e morte. Eu tenho medo da morte. Tenho medo de tudo que não posso evitar. A fila, o falo, o filão, o filé, o fato, olfato e o mijo do gato, mijado no cio. Maior que a frustração de perder uma eleição, só mesmo a imprecisão de obrar um trocadilho. Não é o caso do Fialho, aquele que quebra o galho de quem, por hesitação ou ato falho, troca o dalho pelo dilho e vice-versa. É tudo conversa convexa, perversa, per capita, permeada de adjetivos empolados, permeável a versões permitidas, permissivas, precavidas, perca a vida mas não perca a piada que o anedotário anda muito repetido. Cresça meu filho, que um dia tudo isso será seu.

domingo, 5 de agosto de 2007

Trocadalhos do carilho

UMA PIZA DÁ PRA VINTE COMER

Hoje eu estive com o Fialho. Jovial e jocoso, o Fialho dá-se ao trabalho de construir trocadilhos. É dele, com patente registrada e tudo, o famoso trocadalho do carilho. Não confunda Raimunda da bunda grande com a bunda grande da Raimunda. Este talvez seja o de mais mal gosto, mas ele conta como se fosse uma preciosidade glotológica. Tem os que ele considera mais inteligentes: fita é virgem porque o gravador é stério, eu acordo mais tarde do que deveria e o Edir Macedo, eu sou pau rodado e o Valter Pereira, eu sei cantar e o Edson Contar, eu pinto parede e o Jânio Quadros, o Pateta usa teclado e o Mickey Mouse. Tem os mais tradicionais, mas da mesma forma infames: não confunda bife à milanesa com bife ali na mesa, não confunda ré presa com represa. E tem também os que ele acha inéditos e fadados ao sucesso: por que as plantinhas não falam? Porque elas são mudas, para que servem os olhos verdes? Para ver de perto. Por fim, os mais pesados, que ele solta apenas quando a dose de caipirinha atinge o mais elevado grau de liberalidades. Estes vêm quase em forma de pergunta e pegadinha: se eu comprar uma pizza, dá para vinte comer? Gosta de café de máquina ou no coador é mais forte? O Fialho é um barato. Cara é a companhia do cara. Tudo tem seu preço, morador tem endereço, passista tem adereço, todo fim tem um começo e eu começo a desconfiar que o Fialho anda inventando trocadilho na Internet. Seja como for, entre a parapsicologia do padre Quevedo e a anfibologia do meu chegado, fico com este pra encerrar o papo: eu como cebola e o Fialho.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Auto de renúncia

FÉ DE OFÍCIO

Esta semana eu conheci o bar do gato, um gueto alegre na periferia desta cidade periférica, suburbana, desumana, criame de aedis, sede da copa, copasul, copo cheio, saco vazio, menina dos olhos do presidente, fada madrinha do governador, discurso laudatório do vereador, robin hood à avessas, bicho preguiça com pressa, feliz aniversário, inditoso adversário, indigesto prato feito, feitos feito sem mérito, pretérito passado em branco, vidas passado a limpo, alternativas corretas, rogativas escorreitas, curvas e linha reta, muletas e bengalas, muito som e pouca fala, bala na agulha, fagulha na gasolina, patrulha na esquina. Ah! Que saudade que eu tenho de uma mesa de bar, um joguinho de bozó, uma roda de tereré, um tetetê de bolicho, com espetinho de gato, farofa fria no prato, alegria no barraco, entulho no buraco, cutelo no baraço, muita luz no embaraço, muitos braços estendidos, gestos obscenos, pouco mais e muito menos, quase nada do que temos, é tudo que queremos da lei que não cumprimos, do livro que não lemos, do leme que não contemos, do rumo que não seguimos, do ramo que escolhemos. O Josino é o meu ídolo, a Neli é o ícone de uma idade sem dores, no tempo em que a primavera ainda era a estação das flores. O Barbosires é o meu poeta favorito. Poeta que não rima é lima que não amola. Profeta que não prevê não tem nada a ver. Põe vasilha na goteira que vai chover. Tira o lixo da calçada que hoje não é dia de gari. Relaxa, esculacha, baixa a guarda, guarda o medo, abre o segredo, segrega o ódio num sorriso largo, larga a mão das ambições que caixão não tem gaveta, como diria o inominável Rui Pimentel. Quem achar que é diferente que pague pra ver.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Crítica e auto crítica

PENA DE MIM

Eu vou pra balada, embolado no bolo, embotando o mau humor, encarando o dissabor de mais uma noite insone, consumindo um saboroso som sem nome, sem eira nem beira, viciado em coceira, virado da breca. Eu sou da paz. Eu não sou mais aquele incendiário verbal do outro carnaval. Estou muito mais pra metamorfose ambulante. Sou um pseudo-crítico em plena fase de auto crítica. Afinal, o que foi que eu já fiz? O que estou fazendo? O que ainda posso fazer? Já pensei até em recolher-me definitivamente ao anonimato de onde nunca consegui sair. Não seria uma forma de escapar deste merencório olvido? Ser visto e ouvido? Lembrado e copiado? Afinal, que fim teria levado? Perdido ou achado, cassado e caçado, cansado e franzido, trazido à realidade virtual. Ser ou não ser, ver ou não ver, fingir que não vê, fugir do dever, pagar o que deve, apagar o que escreve, escrever e assinar em baixo. Sabe o que eu acho? Não acho palavras pra sentir o que digo. Se sigo não sei se para trás. Se volto não sei se pra frente. Sou uma cruz na encruzilhada, uma curva no atalho, um ruído no silêncio, um passarinho solto na gaiola, um trilho sem bitola, um bobo alegre, um diabo-que-o-carregue. O que fiz não dá saudade, o que faço é um fiasco, o futuro é opaco, o pouco que me resta não presta nem pra verbete, que dirá pra substantivo. Logo eu que fui tão objetivo, cativo do adjetivo e cultivador de catilinárias. Veja só onde eu fui parar. Na vala comum das frases feitas, na estreiteza do saber, nas trevas da idiossincrasia, no núcleo da estrebaria, no raio-que-me-partas. Fui.


domingo, 29 de julho de 2007

Modo de falar

TENHO DITO

Não tenha a menor dúvida. Mantenha a maior distância. Recorra a todas as instâncias e se tiver que perder a esperança, não o faça por vingança. Se preciso rime, reme, rume, fique no rame-rame, mas não me tenha entre seus logros e malogros. Aja como o conselheiro Acácio, seja óbvio. Ironize, hifenize, infernize, envernize, revise seu texto, teste seu q.i., manifeste seu repúdio, repudie seu bom humor, tripudie sobre valores, desafie todos poderes, desligue todos sensores, castigue estes senhores que, presos em seus pendores, não cumprem seus deveres. Devo não nego, se puder não pago, se precisar não peço, se perder não renego, se escapar não pego e, se de repente, achar que posso obrar um milagre, recorro ao padre Quevedo. O padre humilha em sua homilia. O cacto não fere com seus espinhos. A seta acerta os caminhos. O que encurta os caminhos são os atalhos, já dizia o conselheiro Acácio, em sua incorrigível clarividência. Não confunda conselheiro Acácio com Papai Noel. Cada qual no seu papel. Este com suas lhamas, aquele com seu corcel. Aquele com seu boné, este com seu chapéu. Se você ainda não fez, corra, vá fazer. Eu acabei de refazer o refis. É assim mesmo que se diz?

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Consciência rara

DE PASSO EM PAÇO

Eu ando trocando passo por paço. Poderia até me defender justificando que com os anos que passam, meus passos curtos de sexagenário e até mesmo o longo tempo que não passo pelo Paço, impedem outras passadas, mas não posso. Peço apenas para não parar de pensar. Herrar é umano. Só não erra quem já era. Priscas eras. Há quem não erre a porta do erário, quem não chegue no horário, quem não passe do sumário, quem não passe por otário, quem não finde no ossário. Esta vida é um rosário de contas mal cantadas, de estradas bifurcadas, bifurcações convergentes, gente de todas as raças, roças de todas as plantas, planta de todas as casas, casas derrubadas pelo furor dos furacões. O homem troca, a natureza dá o troco. Cada árvore queimada é um quilômetro a mais no pé do vento. Cada ave abatida é um metro de areia no leito do rio. O rio Taquari está morrendo, os guavirais já não florescem mais, a paz do campo já não resiste ao ronco do trator. Pelo amor de Deus me deixa dormir que esta noite não consegui pregar o olho com uma maldita muriçoca rosnando no meu sono.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Faça o que eu mando

NÃO FAÇA O QUE EU FAÇO

Atire a primeira pedra aquele que nunca chorou o leite derramado, aquele que nunca pegou bicho de pé, que nunca pegou dengue, que já dançou o merengue, que um dia doou sangue, pescou no mangue, que não tenha dado sopa, engolido sapo, levado sopapo, papado a vizinha, avisado ao vizinho, mimado a vozinha, virado o capeta na hora da missa. O preço é módico, o médico é moderado, o corpo é modelado, a modelo é mameluca, o desce redondo, desce da cerveja Sol é o melhor anúncio do inverno, no mercado pilsen. Beba com moderação, saiba sem limitação, caiba dentro do caixão, cubra o sol com a mão, tome pinga com limão, pingue uma gota de colírio, coma um prato de feijão e não deixe de ser hilário, mas conte uma piada nova. Nada é menos risível que rir de anedota antiga, assanhar lombriga, apartar briga, suportar fadiga, cuspir no gramado. Levante a mão quem nunca cagou atrás da moita, chutou cachorro magro, pagou o mico, imitou o rico, encarou o preço, apressou o passo com medo de assombração. O Ministério da Saúde adverte: está faltando dipirona no sistema único de saúde. Saudações.

terça-feira, 24 de julho de 2007

A vida é um verbo

COMO DIZ O OUTRO

A calúnia é como carvão, quando não queima, suja a mão. Mão de mestre não suja ferramenta. Ferramenta pesa mas alimenta. O adágio é o pedágio que se paga para atravessar da sabedoria à experiência. A experiência é a mãe de todas as ciências. O poeta declama o verso, o piloto aciona o reverso, o beato reza o terço, o verdade tem seu preço, o endereço do mendigo é o espaço sideral. Além do horizonte há um monte, do monte nasce a fonte, da fonte corre o rego d’água que mais adiante, vira o pacífico atlântico, com suas ondas, suas praias, seus banhistas, suas sungas e seus sacos plásticos, seus navios e seus clássicos vazamentos. Eu tenho um amigo dado a adágios. O Juvenal é mesmo um cidadão proverbial. Champanha de pobre é sonrisal. Dê o mote que o Juvenal monta o dito popular. De janeiro a janeiro o dinheiro é do banqueiro, o chiqueiro é do porco, o pouco com Deus é tudo, tudo pode acontecer, nada é possível, a surpresa é previsível, o previsto não é caro, o caro é pra quem pode, quem não tem imunidade não enrola cobra no pescoço. Quem não tem goela não engole caroço. E assim vai a noite inteira, com sua gaita regateira, sua língua repentista, sua rima entrelaçada, sua letra mal passada, sua risada engraçada, sua saída sem graça. Viver é substantivo. A morte é objeto direto.

domingo, 22 de julho de 2007

Virtudes obscenas

O MILAGRE DO MEL

O padre Quevedo já conseguiu à distância decifrar o mistério da Nossa Senhora que jorra mel em Campo Grande. Para ele e sua parapsicologia tudo não passa de um simples aporte. O aporte é o ato da casa pegar fogo, a imagem chorar lágrima ou sangue e até mel. Eu não me convenci com a explicação do caçador de mitos religiosos, mas cheguei a uma conclusão: se a parapsicologia existisse há dois mil anos, certamente, teria havido uma explicação científica para a ressurreição de Cristo. Não quero com isso justificar minha fé no fenômeno, e sim mudar de assunto, que, religião não se discute, política se incute, a mentira repercute, e por menos que se escute, dá pra ouvir os gemidos das almas penadas perambulando pelos corredores das assembléias e estertores das governadorias, em busca, quem sabe, de um encontro fortuito com alguma mídia técnica ou mesmo um olhar de indiferença e até um gesto obsceno, daqueles de puxar os braços para trás e mover os quadris para frente, bater com a mão vazia sobre a fechada e o mais comum, que é a exibição ostensiva do fura-bolo. O palavrão, apesar de muito mais agressivo, é menos significativo. O gesto é abrangente. É como um número. Todos entendem, até o analfabeto. O palavrão é íntimo, o gesto intimidativo. Aquele é individual, este coletivo. Tem dia que a gente amanhece querendo mandar tudo à puta que o pariu, mas se contém, porque ninguém tem a ver com nossas frustrações. Mas, pra não perder a moral da história, aqui pra você, oh!

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Mea culpa

CARAPUÇA & CARAPAÇA

Afinal temos a quem atribuir nossas culpas. Lula é o culpado. Sua primeira culpa foi ter nascido no Nordeste, tido feito pau de arara, visto cedo liderando, tido eleito presidente, prescindindo tanta gente muito menos lugar comum. O deputado corrupto, a responsabilidade é indiscutivelmente do presidente, por não ter sido o mínimo diligente na escolha de seus aderentes. A crise na agricultura, ta na cara que o presidente está por trás. Por trás, não, à frente. Afinal, ele como nordestino que é, deveria conhecer de cor e salteado todas as oscilações climáticas havidas no período. Não adianta despejar milhões no milho, nos bois e nos feijões se não consegue adotar métodos de controle cambial que favoreçam as exportações. O Mantega não poderia ignorar a possibilidade de trabalhar com duas taxas, uma para quem vai vender e outra para quem vai comprar lá fora, de modo a tornar nossos produtos competitivos no mercado externo. E o apagão aéreo? Não tenha dúvida da responsabilidade civil, militar e eclesiástica do presidente da república. Tudo começou quando ele trocou o sucatão por um avião que voa. Ninguém está levando este fator em consideração, mas esta insolência de sua excelência, detém uma enorme e impetuosa carga negativa de ponto de vista político e filosófico, pois o ato emblemático da substituição das aeronaves, aparentemente rotineiro, terminou por refletir o caos físico dos aeroportos e o abatimento cívico dos controladores de vôo. Se você tem alguma culpa ou saiba quem é culpado, não fique aí parado. Aproveite o próximo refis e parcele tudo em até 240 meses. A culpa compensa.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Homem de pouca fé

QUEM NÃO ACREDITA EM MILAGRES?

RÉQUIEM PARA A VIDA

O homem está permanentemente em busca de sua identidade, de seu conhecimento, da origem da vida. Quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha, a mandioca ou a farinha, o afilhado ou a madrinha, o mar ou a marinha, Deus ou o diabo? Dúvida cruel, gosto de fel, mel de abelha, remédio que jorra do queixo da santa. É o milagre pantaneiro, no ferrão de uma abelha africana. Mel puro, milagre seguro. Bom agouro, bem agora que só mesmo um prodígio sobre-humano pode evitar que o mundo seja consumido pelo frio fogo do pecado, que os aviões lotados continuem sendo destruídos pela fatalidade de pistas escorregadias, que um dia as armas nucleares se tornem todas obsoletas como espoletas molhadas e que a paz não seja mais lavada com sangue de crianças. Eu acredito em milagres. O doce milagre da melíflua mãe do homem. O prodígio do botão de rosa se abrindo, a maravilha de uma criança nascendo e de um casal de pardais se amando. A vida é um milagre e eu dou graças a Deus estar vivo para testemunhar esta graça da florada dos ipês. Amém.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Nada como um dia atrás do outro

DE QUE VALEM AS VAIAS?

As vaias ao presidente na abertura do Pan, teriam sido uma simples intolerância? Eu acho isso, mas também não precisa exagerar no juízo. É preciso tomar juízo, reduzir o prejuízo, fazer o que for preciso para não baratinar. O presidente também é gente, oxente! É evidente que com tanta voz discrepante, o ato variasse para uma manifestação repelente e sua excelência vivesse o seu dia de cristão no coliseu. O bom é que já se pode vaiar, dizer não a todo pulmão, por a mão na inconsciência, avocar a irreverência, desopilar o fígado, desentupir o ralo, ralar a bunda na ponta da faca, cagar e andar pro protocolo, sentar no colo, colar na prova, provar as privações, provocar as reações, reagir às provocações e até desafinar. Isto porque a ditadura é fria e cruel, a democracia é livre e alegre. Mais alegre que o ouro Diogo Silva só o couro na Argentina. Mais triste que os apupos à sua majestade foram as lágrimas da Jade.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Invernos primaveris

A FLOR AMARELA DO PÉ DE IPÊ

Em junho e julho flora o ipê roxo. Em julho e agosto o amarelo. Eu prefiro este. Gosto se discute. Que seria do roxo não fosse o amarelo, que seria da farinha não fosse o farelo, da bigorna sem o martelo, do cutelo sem o tronco, do bronco sem o culto, do oculto sem o claro, da claro sem a vivo, alô, não me ligue a cobrar, não me cobre que eu não sei quando pagar. A coisa aqui tá preta. Meu celular está grampeado, meu mandato foi cassado, meu saldo bloqueado, meu salto rebaixado, meus altos e baixos nivelados por baixo, meu cão basset devorado e até meus sonhos doirados tiveram seu sigilo quebrado. Sou a larva da mosca que pousou na sorte do cavalo do mocinho. Fendido por N cunhas, alcunhado de bandido, banido do convívio, convivendo com o inimigo, ofendido por todos os adjetivos possíveis e imagináveis. Acordei e por alguns instantes relaxei achando que tudo aquilo não havia passado de um grande pesadelo. Está apenas começando a florada do ipê amarelo. Como é bonita a flor amarela do pé de ipê.

domingo, 15 de julho de 2007

Na paz da praça

QUEM DISSE QUE AS ROSAS NÃO FALAM?


A praça continua a mesma. A mesma fonte luminosa, a mesma moita de babosa, a mesma estátua famosa, a mesma rosa na roseira perseguida pelas saúvas de sempre, ativas, atávicas, ataviadas com seu naco de folha enfumada, pisada pela sandália sagrada no pé do salgado monsenhor, meu censor de bom senso, sem consenso. A propósito, esta semana a moça do Censo por fim passou e me recenseou. Agora eu sou um número que conta no total. Deixei de ser aquele desprezável conjunto vazio na estatística, passei a fazer parte do cadastro nacional. Isto é ótimo para a receita federal, o serasa e o SPC. Doravante qualquer um pode jurar que eu existo, acessar o meu registo, resistir aos meus encantos, encantar meus desalentos, desabrir meu mau humor, desabrigar meus caprichos, caprichar na indiferença, provocar a resistência, renovar velhas crenças, reestocar a despensa, dispensar a reverência e despencar no precipício. A praça continua no mesmo lugar. O rostos na praça continuam os mesmos, a esmo, na dúvida, na dívida, no cheque pré, no celular pós, na loção pós barba, na braba faina do rigor da fauna de homens desalmados, nesta flora insana de concreto armado. A praça é a ponte entre o cartão de crédito e a inadimplência.

sábado, 14 de julho de 2007

De minha coluna no jornal


MEU ALTO ASTRAL
Esta semana eu estive com a Nelly Bacha. A Nelly está em alta. O dólar
está em baixa. O som está na caixa. A caixa preta não se encaixa na faixa
verde dos bons costumes, os curtumes já não curtem, as cardumes já não
sobem, os queixumes já não cabem, os legumes não matam mais a fome. O nome
de minha identidade, em verdade, é apenas um número, que não é,
necessariamente, o número um. A Nelly Bacha fala alto. O auto-falante fala
baixo. Não precisa gritar que eu não sou surdo. Não adianta reclamar que
eu não escuto. Bendito é o fruto, malvisto é o vulto, bem-dito é o culto,
curto e grosso é o discurso, fraco e pouco é o recurso, o porco é limpo, o
burro não é besta, a sexta é fria, a cesta está vazia, o vazio enche, o
pavio apaga e a disenteria aplaca qualquer valentia. Quem não tem mensalão
vai de mesadão. Os deputados têm a mesada, a gauchada tem porco no rolete,
um filete de água limpa lava o estilete. O leite derramado, o derrame
letal, o ano letivo, o venerável burgo-mestre, o vulnerável
cabra-da-peste, tudo cabe no cabide. Eu não caibo no cabido. O cabedal da
Nelly Bacha é cabal. Eu não poderia ter estado com a Nelly Bacha. A Nelly
Bacha não existe.
PIADA INFAME
Dois desconhecidos conversavam. Um da cidade e outro da roça. O da roça:
qual é mesmo sua graça? O da cidade: o meu nome é do tamanho de minha
fortuna e de minha capacidade. O da roça: mas como é mesmo o vosso nome? O
da cidade: meu nome é Omar e o seu? O da roça: muito maior que o seu, dez
vez mais que o seu... O da cidade: eu duvido, mas diga lá. O da roça: o
seu é Omar e o meu é Osmar.
BASSET
O cão basset que enfrentou o pitbul e salvou a dona, uma criança de 9
anos, é o meu tipo inesquecível desta semana. A propósito do consenso de
que o cão parece com o dono, no caso do pitbul é o dono que parece com o
cachorro. Se você provocar ele até rosna.
ARTUZI
Campeão das pesquisas o deputado Ari Artuzi (PMDB) poderá ser o candidato
a prefeito de Dourados. A pedra no sapato poderá ser o deputado federal
Geraldo Resende, que deixou o PPS para disputar a vaga de Tetila, com o
prometido apoio do governador André Puccinelli, que já mandou dizer que não
acredita em pesquisa.
HEROIS
A cadeia revela dois heróis em Campo Grande. Ao deixar a cana, Nilton
César levanta a bandeira da legalização do jogo e ao entrar a médica Neide
Mota Machado protege-se com a bandeira da legalização do aborto. Ambos não
estão sós.

(Revista Boca do Povo, desta semana)

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Crônica da idade avançada

EU E MEU CÃOZINHO ANGORÁ

Tem dias que a gente anoitece com o peito sangrando, amanhece com pinto pingando, embravece com o galo cantando, se embevece com os gatos trepando, endoidece por falta de uma dor, uma simples dor de dentes que seja, um copo de cerveja, um cacho de cereja, um cocho de cevada ou mesmo um argueiro no olho da cara. A vida é um barato. A morte de uma barata, a sorte numa carta, uma única cartada, uma túnica surrada, uma surra bem dada, um dado e seus números, inúmeros, impúberes, impolutos, resolutos, absolutamente putos. O homem é um animal irracional. O instinto é a inteligência do animal. O homem pensa porque precisa. O animal é feliz porque pensa sem precisar. O cão guia o cego, salva o menino. O asno silencia às asneiras de seu dono. A anta antevê o caçador. O gatuno não é necessariamente um gato. O sereno da madrugada molha a estátua do herói na praça, os pombos cagam na sua cabeça, a rotina é rota, o guloso arrota, a esquina é reta, a retina é torta, a resina entorta, Inês é morta. Vira e mexe a gente passa pela mesma porta, prova da mesma torta, entorta a mesma barra, esbarra no mesmo barro, berra no mesmo ponto, aponta na direção errada, passa por baixo da escada, escala as ladeiras horizontais, desce a planície, planeja o pecado, é picado, pescado, pesquisado e lugar comum não consegue superar o macaco e muito menos o basset que peitou o pitbul. Eu não sou digno de latir para o meu pequinês.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Fala Sergio Cruz

A REFORMA DISPENSÁVEL

A Câmara dos Deputados está tentando votar a reforma eleitoral. Empacou no casuísmo das cúpulas partidárias, que tentam impor medidas imediatistas de acomodação pessoal. A lista fechada foi a primeira excrescência descartada pela maioria. A fidelidade partidária está sendo maquiada para encaixar a infidelidade, na tolerância de um ano para o detentor de mandato eletivo migrar de legenda. O voto distrital já está sendo mesclado com o distrital misto e o PMDB chegou ao desplante de propor voto majoritário para deputados e vereadores. O fato é que o Brasil não precisa de reforma eleitoral. Nosso sistema de eleição proporcional é modelar, porque democratiza a participação popular. Nossas leis de repressão à influência do poder econômico nas eleições são suficientes para punir os infratores. A legislação precisa e pode ser aperfeiçoada com a queda do voto obrigatório e a supressão do horário eleitoral gratuito. Quanto à compra de votos esta só deixará de haver quando não mais houver quem o venda. O resto é sessão extraordinária para render jeton.

CABEÇA
A cabeça do secretário de Segurança Wantuir Jacini está prestes a ser entregue numa bandeja à base política do governo na Assembléia Legislativa. A pressão em cima do jogo-do-bicho seria a razão de sua eventual queda. Há quem garanta que a senha da degola poderá ser uma esperada manifestação de apoio do governador André Puccinelli.

NOVIÇO REBELDE
O governador André Puccinelli referiu-se ao deputado Dagoberto Nogueira como noviço rebelde, no discurso durante recente econtro do PDT em Campo Grande. André referia-se à insistência do parlamentar em ser candidato a prefeito, contrariando a disposição da cúpula trabalhista que pretende mesmo é apoiar a reeleição de Nelsinho Trad.

AGÊNCIAS
Donos de agências garantem que não lavaram dinheiro da comunicação do governo Zeca do PT. A maioria desconhece os ralos do oscarduto e abrem suas contas para o Ministério Público conferir. Alguns recebem as denúncias com uma certa estupefação, pois reclamam que deixaram de receber uma pequena fortuna de serviços prestados. A conferir.

NA ORELHA
Maria Quitéria da direção nacional do PDT puxou em público a orelha do vereador Paulo Pedra por seu discurso no reingresso no partido. Pedra jurou submissão aos líderes partidários. Quitéria disse alto e bom som que trabalhista que se preza conquista seus espaços sem submeter-se.