terça-feira, 25 de setembro de 2007

Epopéia

GORANDO

A Via Láctea é lactante, latente, visível a olho nu, acessível a todos os poetas, previsível aos profetas. A Via Láctea é obvia, mas não infinita. Tem começo, meio e fim. É como o arco-íris com suas cores indecifráveis, infláveis, biodegradáveis, suaves, saídas do chão, caídas na mão, escolhidas a mão, manuseadas com os olhos, olhadas com desdém, desenhadas com a luz dilúcula do entardecer. Antes tarde do que nunca. Nunca é tarde para ligar a lâmpada do final do túnel. Sempre há uma última gota no fundo do tonel, um camisa dez no plantel, uma pauta em branco no papel, uma flauta doce na sinfonia, uma malta aberta à desordem, uma mata fechada, uma fachada suspeita, uma meta não alcançada, um mito desfeito, um moto em falso, um mútuo refeito, o defeito insanável, o insano agressivo, o engano não explicado, a explicação difusa, a difusão confusa, a confusão generalizada, a honra desvirtuada, as horas paradas, a parada obrigatória, obrigado a calar, abrigado do frio, afogado no rio, perdido na rua, achado no palheiro, emparelhado na raia, raiado na barra, barrado no baile, birrado com o burro, burradas a parte na parte que me toca. Não há santo no inferno mas há flores no inverno. Não há mal que sempre dure. Nem o firmamento é eterno. O terno nem sempre é estimável. A estima estigmatiza. O astigmatismo afigura a imagem. A imaginação é uma ave de quatro asas, uma rua sem casas, uma casa sem piso, uma pisada na bola, uma bolada perdida, uma perda irreparável, uma reparação compelida, a compleição natural, a perfeição desejada, os desejos frustrados, os frutos maduros, os furtos abjetos, os objetos em desuso, o useiro e o vezeiro. As palavras são uma ciência exata.
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