quinta-feira, 29 de outubro de 2009

1553 – Cabeza de Vaca chega a porto dos Reis. O navegador espanhol Álvar Nuñes Cabeza de Vaca, em sua viagem de exploração ao Pantanal, chega ao Porto dos Reis, na laguna de Xaraés, “onde os nativos já estavam à espera, acompanhados de suas mulheres e filhos.”
“Ali, diante da boa vontade dos nativos, o adelantado fez toda uma pregação, pedindo-lhes que aceitassem a doutrina cristã, acreditassem em Deus, criador do céu e da terra, e que aceitassem ser vassalos de Sua Majestade, pois com isso seriam sempre defendidos e amparados pelos espanhóis. Além disso, sendo bons, receberiam sempre muitos presentes, como recebiam aqueles que eram fiéis seguidores de Sua Majestade. E logo mandou chamar os religiosos e clérigos de disse-lhes que queria que construíssem de imediato uma igreja para ali ser rezada missa e outros ofícios religiosos, para conforto dos cristãos e exemplo para os nativos. Mandou também fazer uma cruz de madeira muito grande, que mandou fincar junto à ribeira, debaixo de umas palmeiras muito altas, o que foi feito em presença dos oficiais de Sua Majestade e de outras pessoas. E perante o escrivão da província tomou posse da terra em nome de Sua Majestade, como sendo terra novamente descoberta.” *

* VIAJANTES DO PANTANAL, p 16

De meu livro DATAS E FATOS HISTÓRICOS, p

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Acenteceu a 28 de outubro

Um pouco da História do Estado do Pantanal

1943 – Criada a colônia de Dourados. Decreto do presidente Getúlio Vargas cria o Núcleo Colonial de Dourados, o maior projeto público de colonização do Centro-Oeste brasileiro:
Decreto no. 5941 – de 28 de setembro de 1943
Cria a Colônia Agrícola Nacional ‘Dourados’, no Território Federal de Ponta Porã e dá outras providências.
O Presidente da República, usando das atribuições que lhe confere o art. 180 da Constituição.
DECRETA:
Art. 1o. – Fica criada a Colônia Agrícola Nacional ‘Dourados’, no Território Federal de Ponta Porã (C.A.N.D.), na região de Dourados em terras a serem demarcadas pela divisão de terras e colonização do Departamento Nacional de Produção Vegetal do Ministério da Agricultura.
Parágrafo único – A área a ser demarcada não será inferior a 300.000 (trezentos mil) hectares.
Art. 2o – As despesas decorrentes das obras de fundação e instalação da Colônia, correrão por conta da dotação de Cr$ 2.000.000,00 (dois milhões de cruzeiros) atribuída à Colônia de Mato Grosso, compreendida na Verba 5 – Obras, desapropriação, etc. Consignação I – Obras – Subconsignação 02 – Prosseguimento e conclusão de obras, etc. 21) D.N.P.V. – 04) D.T.C. – a) Prosseguimento de obras das Colônias Agrícolas Nacionais – d) Mato Grosso, do orçamento geral da União para o corrente exercício e observadas as disposições do Decreto-lei no. 5.562, de 09-06-1943.
Rio de Janeiro, 28 de outubro de 1943, 122o da Independência e 55o da República.

Getúlio Vargas
Apolônio Sales.” *

* Lori Gressler e Lauro J. Swensson, ASPECTOS HISTÓRICOS DO POVAMENTO E DA COLONIZAÇÃOO DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL, p 89

De meu livro DATAS E FATOS HISTÓRICOS, p 391

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Aconteceu a 26 de outubro

Um pouco da História do Estado do Pantanal

1864 – Nasce em Nioaque, Jango Mascarenhas. Em dezembro de 1891 passa a integrar o conselho de administração da intendência de Nioaque, assumido a presidência do mesmo em 1892, quando reuniu e comandou as forças que, no sul do Estado combateram os rebeldes do coronel Barbosa, que haviam deposto o governador Manoel Murtinho.
Em 1894, Jango elege-se deputado estadual.
Em 1896 atacou e destruiu a fazenda Santa Rosa, de João Caetano Teixeira Muzzi, fundador do Partido Autonomista, que defendia a separação do Sul.
Em 1899 é eleito 2º vice-presidente do Estado, em chapa encabeçada pelo capitão Antonio Pedro Alves de Barros, com quem rompe em seguida, acompanhando seu líder, Generoso Ponce. Em 1901 refugia-se no Paraguai, de onde reuniu um grupo de mercenários e invadiu o Estado, sob a bandeira da divisão do Estado. Foi perseguido por forças legalistas, comandadas pelo coronel Jejé, de Aquidauana. Sua tropa foi destroçada e ele morto a 21 de outubro de 1901, às margens do Taquarussu. 1

1894 – Circula o jornal A Voz do Sul. Sai a edição no 1 do primeiro jornal de Nioaque. Foi seu redator João Cláudio Gomes da Silva, impresso em equipamento gráfico adquirido em Cuiabá, da antiga tipografia do jornal A Situação, pelo coronel Jango Mascarenhas. Sua linha editorial obedecia às seguintes diretrizes:

“Somos alheios a toda e qualquer seita religiosa, mas convencidos apesar da diversidade das partes doutrinárias de que todas as religiões partem do mesmo princípio que - é a moral voluntários, apresentamo-nos como sectários desses altos princípios sociais, sendo a nossa divisa do desinteresse: para a sociedade, pela sociedade.
Republicanos de princípios, para nós a República é a chave que coroa a abóboda desse grande edifício de conquistas político-sociais.
Que a Repúiblica é o único governo que pode fazer a felicidade do povo brasileiro: eis as nossas convicções.
Treabalhar pelo engrandecimento da pátria matogrossense em todo terreno; defender os interesses estaduais, nas questões de interesse geral e batermo-nos pelos interesses do sul em todas as questões em que for envolvido, eis o nosso programa.”
Em 1896 o jornal foi empastelado e o material gráfico todo atirado no rio Nioaque. O autor recebeu o cognome de Onça Preta. 2
1963 – Prefeitos e vereadores aprovam divisão. Renidos em Corumbá, no II Congresso da Associação Mato-grossense dos Municípios, foi discutida e votada moção aprovando a divisão do Estado:
“45 votos contra 11 e uma abstenção assinalaram a vitória da tese divisionista no 2o. Congresso da Associação Mato-Grossense do Municípios, reunido em outubro p.p. em Corumbá.
Maioria expressiva, que revela a compreensão do problema da descentralização administrativa no grande Estado do Oeste e as vantagens que dela decorrerão, imediatamente.
Norte e Sul desfrutarão benefícios da providência, quando se concretizar após o processo determinado pelas leis constitucionais que regem o Estado e a Nação.
Premissas de uma fase de notável desenvolvimento sócio-econômico naquele vasto território pátrio são perfeitamente justificadas, agora, como o eram em etapa mais prolongada, antes da decisão histórica do 2O Congresso da A.M.M.
Formadas as duas novas unidades federativas , a Pátria se engrandecerá mais depressa com o esforço disciplinado de mato-grossenses do norte e de mato-grossenses do sul, conjugado no ritmo comum do progresso da Federação.
Urge, portanto, que providências concretizadoras da formação dos dois novos estados de desenvolvam com brevidade, num ambiente de concórdia e de recíproca tolerância, que evidencie a perfeita integração das populações matogrossenses no primado da democracia em que vive e prospera a nação.
E que não se repitam os lamentáveis acontecimentos provocados por grupos de desordeiros, que intentaram tumultuar o 2O Congresso da A. M. M., comprometendo com a sua atitude insólita os foros de civilização que Corumbá conquistou, mercê das sua perfeita identidade com os postulados democráticos.” 3

Notas

1 Miguel A Palermo, NIOAQUE, 15
2 Rubens de Mendonça, HISTORIA DO JORNALISMO DE MATO GROSSO, 85
3 Revista BRASIL OESTE, Edição 87, p 45

De meu livro DATAS E FATOS HISTÓRICOS, 388

domingo, 25 de outubro de 2009

Aconteceu a 25 de outubro

Um pouco da História do Estado do Pantanal


1553 – Cabeza de Vaca chega ao rio Negro. Em sua viagem de exploração ao Pantanal, o navegador espanhol Alvar Nuñes Cabeza de Vaca alcança a foz do rio Negro:
“No dia 25 de outubro o adelantado chegou com seus bergantins a uma parte em que o rio se dividia em três braços. Um dos braços era uma grande lagoa, mas que os índios chamam de rio Negro. Este rio corre para o norte, terra adentro. Os outros braços são de boa cor e pouco mais abaixo vão se encontrar.
O adelantado mandou colocar muitos sinais na boca do rio, com árvores cortadas e mais três cruzes bem altas, para que servissem de indicação para os outros nativos que vinham atrás. Continuou navegando a remo durante três dias, ao cabo dos quais saiu daquele rio e foi por outros dois braços que saem da lagoa, tendo chegado à beira de umas serras muito altas e arredondadas como um sino, além de serem avermelhadas e completamente desprovidas de vegetação. Por estas condições, deferindo totalmente das outras serras destas paragens, que são montanhosas e cheias de árvores e vegetação, acredita-se que exista muito metal por ali. Os índios disseram que em outros tempos seus antepassados tiravam dali um metal branco, mas o adelantado não pode constatar a existência ou não do mineral por não levar ferramenta adequada e pela grande enfermidade que deu no pessoal por aquele período. Além disso, entendeu que poderia fazer esta investigação em outra ocasião, porque estas serras ficavam perto do porto dos Reis, vindo por terra.” 50

1907 – Murtinho alerta contra migração gaúcha. Um dos donos da Empresa Mate Larangeira, o ex-presidente Manoel Murtinho, escreve ao seu correligionário e atual governante estadual, Generoso Ponce preocupado com as grande levas de migrantes do Rio Grande do Sul que chegavam ao Sul de Mato Grosso:
“Acresce que a proposta submetida pela referida empresa à deliberação da Assembléia, além de consultar altos interesses do Estado, tanto no presente como no futuro, conforme se mostrou a meu ver cabalmente, na exposição de motivos, que acompanhou, ainda viria a facilitar a solução de um temeroso problema, que não pode deixar de preocupar a alta administração do Estado.
Aludo à emigração rio-grandense, que de dia a dia vai se avolumando e estendendo pelo sul do Estado, onde os adventícios tratam logo de ocupar terrenos devolutos pela facilidade que encontram e que faz parecer que dentro de mais alguns anos, essa colônia dominará pelo seu número e extensão, toda aquela região, constituindo por assim dizer Estado no Estado.” 51

Notas
1 Cabeza de Vaca, VIAJANTES DO PANTANAL, p 15
2 Pedro Valle, A DIVISÃO DE MATO GROSSO, p 23

De meu livro DATAS E FATOS HISTÓRICOS, p 387

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Aconteceu a 21 de outubro

Um pouco da história do Estado do Pantanal

1901 – Morre Jango Mascarenhas. Em combate contra as forças legalistas, comandadas pelo coronel Jejé e Bento Xavier, morre na fezenda Esperança, às margens do rio Taquarussu, no município de Nioaque, o maior líder político do sul de Mato Grosso no final do século XIX. Foi intendente geral de Nioaque, deputado estadual e vice-presidente do Estado. É considerado como um dos pioneiros do movimento divisionista, causa atribuída ao seu rompimento com os políticos de Cuiabá. Seu corpo está sepultado no cemitério de Aquidauana. Na lápide a seguinte inscrição:

“Passant ne pleure ma mort
Car je suis vif meme quand je suis mort

Aqui descansa o bravo Coronel
João Ferreira Mascarenhas
Nascido a 26 de outubro de 1864
E morto heroicamente a 21 do mesmo mês de 1901

No combate de Esperança pugnando
Pela rendempção de sua terra natal
Que a sua imperecível memória
Inspire os seus conterrâneos o santo amor da liberdade
Para o engrandecimento da Pátria

Pas a sua alma.” 1

1917 – Nasce em Ponta Porã, Rachid Saldanha Derzi. Médico, formado pela Faculdade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, iniciou a carreira política como prefeito de sua cidade natal, em 1942. De 1947 a 50 foi vereador e presidente da Câmara Municipal. Em 1950 volta à prefeitura de Ponta Porã para mais um mandato. Deputado federal por quatro legislaturas (de 1955 a 1971), elegeu-se senador para o primeiro mandato em 1970. Em 1978, reelege-se para o Senado por eleição indireta e em 1986 elege-se senador Constituinte, cargo onde viria a encerrar sua trajetória política em 1994. Foi o político do Sul de Mato Grosso com mais tempo de mandatos. Faleceu em 1999, em Campo Grande. 2

Notas:

1 Miguel Palermo, NIOAQUE, p 15
2 FORÇAS VIVAS DA NAÇÃO, p 33

De meu livro DATAS E FATOS HISTÓRICOS, Edipa, 2001, p 384

sábado, 17 de outubro de 2009

Aconteceu a 17 de outubro

Um pouco da História do Estado do Pantanal

1866 – Taunay volta a dar notícias de Miranda. Em carta a uma irmã no Rio, o tenente Taunay volta a lamentar a situação calamitosa das tropas brasileiras, antes de partir para o ataque aos inimigos na fronteira norte da República paraguaia:
“Há um mês chegamos a este montão de ruínas, que entretanto não deram ainda bom abrigo contra os furiosos furacões que temos tido.
Entretanto o nosso estado sanitário geral não é satisfatório para não dizer tristíssimo. Este mês até o dia presente já vi falecer três dos nossos companheiros e retirarem-se mais de vinte vítimas da maldita peste das pernas que dizima nossas fileiras. Era só o que nos faltava. Depois de tantos sofrimentos necessário se tornava esse complemento diabólico! Enfim Deus se compadecerá, afinal, de nós.
Tenho gozado excelente saúde, apesar de todos os achaques morais, conseqüência de minha prolongada estada nos Morros como já te tenho por várias vezes feito sentir.
Quem te leva esta é um dos pobres atacados de tal peste, o cap. Teodoro de Melo que não quis continuar no mal estado em que se achava e tratou logo de por-se a panos. Necessitamos quanto antes de uma medida enérgica, mudarmos incontinenti de local, procurando climas mais favoráveis como sejam Nioac e outros lugares numa zona apenas de 20 a 30 léguas. Mas um emperramento incompreensível domina o nosso comandante das forças, Carvalho, que persevera em ficar assistindo ao triste espetáculo desta pobre desorganização.
As febres intermitentes começam a fazer a sua entrada em cena, agravando os males presentes. Em Nioac o clima, a posição sobre o chapadão de uma grande serra, a água excelente quando aqui bebemos agora salobra, modificariam este estado lamentável de coisas. Daqui a 24 léguas talvez se achasse lenitivo aos nossos sofrimentos e o que se faz aqui?” 1

1892 – Revogada as denominações de Nioaque e Coxim. O presidente Manoel Murtinho veta decreto da Assembléia Legislativa, alterando os os nomes da vila de Levergeria e da freguesia de São José de Herculânia, que pretendiam adotar os nome que têm hoje, Nioaque e Coxim, respectivamente:
“Nego sanção à presente resolução por me parecer que nenhuma razão de utilidade pública a sufraga. O nome de Levergeria, dado à antiga povoação de Nioaque, foi uma homenagem prestada ao finado barão de Melgaço (Augusto Leverger), a quem Mato Grosso deve inolvidáveis serviços, sobressaindo entre eles importantes estudos sobre a geografia e história da extinta província; bem como a denominação de Herculânea, que tomou a povoação do Coxim, é um ato comemorativo da administração do ex-presidente Herculano Ferreira Penna. Não são, pois, arbitrárias tais denominações, mas antes se estribam em motivos mui plausíveis e uma vez que eles persistem, torna-se injustificável a alteração decretada, tanto mais quando a substituição do primeiro dos indicados nomes pode ser tida em conta de desconhecimento de méritos e serviços do barão de Melgaço, o que indubitavelmente não esteve na mente da ilustre Assembléia Legislativa. Acresce laborar em equívoco a resolução, quando afirma que as localidades de que se trata tiveram as denominações originárias de - ‘vila de Nioaque e freguesia de Coxim’ – visto como os nomes de Nioaque e Coxim, provenientes dos rios que banham aqueles lugares, perderam-nos as duas povoações ao tempo em que foram elevadas à categoria de freguesia, tomando desde então as denominações modernas, como se pode verificar compulsando as coleções de leis da extinta província. Pelo exposto, negando sanção ao projeto, seja ele devolvido à Assembléia Legislativa, em conformidade com o art. 14 da Constituição política do Estado.” 2

1991 – Papa celebra missa campal em Campo Grande. João Paulo II no dia seguinte à sua chegada à capital do Estado, cumpre a parte mais importante de sua agenda: missa campal para milhares de fiéis, em área e altar preparados especialmente para o ato, nas proximidades do cemitério Santo Amaro. A base de sua homilia foi a fidelidade conjugal, tema adequado a Campo Grande, à época, considerada a capital com maior número de divórcios no Brasil:
“Não vos deixeis abalar pelo temor de que a fidelidade a esses princípios éticos vos coloquem em situação de desvantagem, num ambiente em que, não raro, a lei moral é desprezada e grassa a corrupção.” 3
Em sua intensa programação, o Papa esteve, antes da missa campal, visitando o sanatório São Julião e à tarde abençoou a catedral de Santo Antônio, permanecendo no local cerca de uma hora, reunido com 450 leigos de todo o Brasil.

Notas

1 Taunay, MENSÁRIO DO JORNAL DO COMERCIO, p 175
2 Rubens de Mendonça, HISTORIA DO PODER LEGISLATIVO DE MATO GROSSO, p 214
3 Jornal DIARIO DA SERRA, 18-10-1991

De meu livro DATAS E FATOS HISTÓRICOS do Sul de Mato Grosso ao Estado do Pantanal, Edipan, 2001 p 377

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Aconteceu a 16 de Outubro

Um pouco da História do Estado do Pantanal

1886 – Doadas terras para Santo Antônio. É lavrada em Nioaque escritura pública, onde Joaquim S. Ornelas e sua mulher Leopoldina Maria Inocente doam a Santo Antônio, meia légua de matas na fazenda denominada Lageado, para implantação do povoado de Campo Grande.
Lélia Rita de Figueiredo Ribeiro, a primeira a tratar deste assunto, explica:
“Em 1886, Joaquim Silvério Ornellas, natural de Miranda, filho de Manoel José Ornellas, português e da índia Kaduwéo Nalice, proprietário de vastas terras na região sul de Mato Grosso, com cerca de 1.000.000 de hectares, constituídos pelas fazendas São João do Varadouro e Lajeado, cujas áreas contíguas abrangiam desde o município de Miranda até atingir a região do Anhanduí, hoje Campo Grande, tendo reconhecido em José Antônio Pereira a legitimidade de sua ação povoadora, vem, num rasgo de generosidade e de grande visão de futuro, realizar a doação a Santo Antônio, de meia légua de matas na fazenda denominada Lajeado, neste município, conforme certidão de transcrição a pedido do bispo da Diocese de Campo Grande, em 6-10-1983.
É do teor desta certidão do Cartório do 1º Ofício de Campo Grande, por seu oficial de registro, Antonio Leite Serra, que o tramitente da escritura de doação foi o sr. Joaquim Silvério Ornellas e sua mulher Leopoldina Maria Inocente, sendo adquirente, Santo Antônio.
Esta doação de Joaquim S. Ornellas e Leopoldina Maria Inocente que era cuiabana de nascimento, foi feita através de escritura pública lavrada no cartório de Nioaque em 16 de outubro de 1886, conforme se infere da mesma certidão, a requerimento do bispo de Campo Grande, dom Antonio Barbosa Guimarães.” 1

1991 - Papa visita Campo Grande. Em sua terceira visita ao Brasil, João Paulo II inclui a capital de Mato Grosso do Sul em seu roteiro. O papa desembarcou as 19,28 na Base Aérea, seguindo de papamóvel até a missão salesiana. Mais de 100 pessoas aplaudiram o chefe da igreja católica em sua chegada. Foi recebido pelo governador Pedro Pedrosssian e pelo prefeito Lúdio Coelho. Permaneceu poucos minutos na pista do aeroporto, tempo suficiente para dar bênção à imagem de Nossa Senhora de Loreto, padroeira da aviação.
Sua passagem pelo centro da cidade é acompanhada, com detalhes, pela imprensa:
“A precária iluminação de avenida Afonso Pena, centro de Campo Grande, não impediu que milhares de pessoas saudassem a passagem do Papa João Paulo II a partir das 19h40 min de ontem. Famílias inteiras se colocaram ao longo da avenida com cadeiras, bancos, toalhas, lanches e sucos, algumas desde as 15h30min, transformando os canteiros em espaços de pique-nique. Apesar da grande emoção que tomou conta dos católicos mais fervorosos quando a comitiva papal foi avistada no asfalto, os momentos que antecederam a passagem foram marcados pelo pouco entusiasmo. A exceção foram grupos isolados, que tentaram ensaiar um ou outro canto de louvor, sempre com pequena resposta.
Ao longo da avenida, chamou a atenção a quase inexistência de grupos de romeiros vindos de outros estados; a platéia foi basicamente composta de pessoas que haviam há pouco encerrado o expediente de trabalho no centro da cidade, que resolveram retardar o retorno para casa ou de moradores de bairros mais próximos. Mas não faltaram católicos para exaltar a presença do Papa e demonstrar sua fé, como a dona-de-casa Porcina Califi, uma das moradoras do bairro Amambaí, que aos 81 anos queria realizar o sonho de ver o Santo Padre de perto.
Levando mais de 20 parentes e vizinhos a tiracolo, Porcina chegou na avenida Afonso Pena, perto da Bandeirantes, por volta das 17 horas, quase duas horas e meia antes do horário previsto para a passagem do papamóvel. Com a perna esquerda fraturada numa queda que sofreu recentemente, e movendo-se com dificuldades com ajuda de uma bengala, Porcina colocou sua cadeira a poucos metros da avenida, rezando a Deus, segundo ela, para que conseguisse ver o Papa. Por causa dos problemas de saúde e prevendo a multidão que tomará conta da área escolhida no bairro Santo Amaro, Porcina descartou a hipótese de poder assistir a missa campal hoje pela manhã. ‘Eu o vejo agora ou nunca’, definiu.
Quando o Papa passou, a uma velocidade estimada em 30 km por hora, vestido de branco, sorrindo e gesticulando para as pessoas na calçada, Porcina foi erguida da cadeira pelo seu filho mais velho, mas a aglomeração das pessoas prejudicou seu ponto de vista. ‘Não consegui vê-lo de frente; só de perfil. Mas foi suficiente’, disse ela momentos depois, ao mesmo tempo que fazia o sinal da cruz e um agradecimento interior: ‘É um dos dias mais felizes de minha vida’. Sua comadre, Dalila Bueno da Silva, não conseguiu esconder a emoção e chorou por alguns minutos. ‘É de alegria’, garantiu.” 2
O ponto alto da visita do Papa a Campo Grande, foi a missa campal celebrada no dia seguinte.

Notas

1 - Lélia Rita Figueiredo Ribeiro, CAMPO GRANDE, O HOMEM E A TERRA, p 246
2 - Correio do Estado, 17-10-1991

De meu livro DATAS E FATOS HISTÓRICOS do Sul de Mato Grosso ao Estado do Pantanal, Edipan, 2001 p 375

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Aconteceu a 14 de outubro

Um pouco da História do Estado do Pantanal

1877 – Inaugurada igreja de Corumbá. Construída em tempo recorde é entregue à população a igreja da Candelária, uma das mais antigas do Sul de Mato Grosso:

“Ata da inauguração da Igreja. Aos quatorze dias do mês de outubro de hum mil oitocentos e setenta e sete, qüinquagésimo sexto da Independência do Império nesta vila de Santa Cruz de Corumbá, província de Mato Grosso e Bispado de Cuiabá, em sede foi com a toda solenidade na forma do ritual romano, inaugurada a nova igreja paroquial da Candelária, sendo benta pelo pregador imperial e vigário frei Mariano de Bagnaia, canonicamente habilitado e dedicada a Deus e à Nossa Senhora da Candelária, que é o seu orago. Esta igreja foi construída com as doações do povo, sendo a obra dirigida por alguma comissão composta dos senhores reverendo pregador imperial frei Mariano de Bagnaia, protetor da devoção ou irmandade, engenheiro tenente-coronel dr. Joaquim da Gama Lobo D’eça, provedor da mesma e tesoureiro João Poupino Caldas, os quais conjuntamente com mesa administrativa devota e espontaneamente celebrar a idéia de construir a dita igreja agenciam com assiduidade os meios com que se levou a efeito tão importante edifício que com quanto mero esteja de todo construído, presta-se com toda comunidade e decência a celebrar-se os atos do culto divino, nas condições da ata de vinte e cinco de maio do ano próximo passado, quando se colocou a primeira pedra fundamental. E para constar a todo tempo se lavrou a presente ata que vai assinada pelos membros da comissão, pelos irmãos, oficiais e mesário e mais pessoas, digo autoridades livres e mais pessoas do lugar, sendo lida logo depois da missa cantada. O secretário da irmandade dessa fará três cópias para serem remetidas à Câmara Municipal desta vila, à Câmara Episcopal e à presidência da província.” 1

1914 – Inaugurada estrada de ferro em Campo Grande. Tida como uma das datas mais importantes da história de Mato Grosso, no que toca ao seu desenvolvimento econômico, sobretudo nesta região que em 1977 passaria a constituir o território de Mato Grosso do Sul, é, oficialmente entregue a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, cujos trilhos foram ligados a 31 de agosto, completando a obra, com o encontro das duas frentes de trabalho, de Itapura e Porto Esperança.
O trem inaugural chegou a Campo Grande por volta das 10 horas:
“A fim de recepcionar a comitiva oficial que procedia à solenidade inaugural, o intendente municipal, sr. José Santiago, foi a Rio Pardo, acompanhado dos srs. dr. Silva Coelho, juiz de direito, José Paes de Faria, Pedro Romualdo e Miguel Garcia. Aquela ilustre comitiva compunha-se do dr. Carlos Euler, representante do sr. ministro da Viação, coronel José Beviláqua, representando o ministro da Guerra, senador Antônio Azeredo, general Caetano Albuquerque, deputado A. de Mavignier, drs. Firmo Dutra, Emílio Amarante, Hilário Adrião e os jornalistas C.S. Rutlindg do Times, Dário de Mendonça do Jornal do Comércio, do Rio, Macedo Soares de O Imparcial e Sílvio Cardoso, de a Época, além de outras pessoas gradas e convidados.
A Câmara municipal, reunida em sessão solene, recepcionou os visitantes, sendo os representantes do governo saudados pelo juiz de direito dr. Manoel Pereira da Silva Coelho. O senador Antônio Azeredo agradeceu em nome do governo e dos visitantes.” 2

1923 – Nasce em Miranda, Antonio Mendes Canale. Filho de Humberto Canale e Ilva Mendes Canale, realizou seus primeiros estudos em sua cidade natal, concluindo o primário no Ginásio Estadual Dom Bosco, de Campo Grande. Em 1941 bacharelou-se em Ciências e Letras no Ginásio Dom Bosco. Em 1947 concluiu o curso de contador na Escola Técnica de Comércio Carlos de Carvalho. Bacharelou-se em Direito na primeira turma da Faculdade de Direito de Mato Grosso, em Cuiabá. Deputado estadual por duas legislaturas seguidas (1950/58); prefeito de Campo Grande em dois mandatos (1963/67 e 1970/73); e senador da República (1975/1983 e 1987-1991) chegou à 1a. secretaria do Senado. 3

Notas
1 Frei Alfredo Sganzerla, A HISTORIA DE FREI MARIANO DE BAGNAIA, p 455
2 J. Barbosa Rodrigues, HISTORIA DE CAMPO GRANDE, p 129
3 GUIA DE CAMPO GRANDE, p 15

De meu livro DATAS E FATOS HISTÓRICOS do Sul de Mato Grosso ao Estado do Pantanal, Edipan, 2001 p 372

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Aconteceu a 12 de outubro

1928 – Inaugurada ponte da Noroeste sobre o rio Paraná, “magnífica obra de arte com 1.024 metros de comprimento e que recebeu o nome de Francisco de Sá, em homenagem ao ministro da Viação na oportunidade. Tal melhoramento veio encurtar a duração das viagens, com a economia de tempo consumido na travessia do rio em ‘ferry boats’, até então em funcionamento.” (*)

(*) Lécio G. de Souza, HISTÓRIA DE CORUMBÁ, p 106

Do meu livro DATAS E FATOS HISTÓRICOS do Sul de Mato Grosso ao Estado do Pantanal, Edipan, 2001 p 370.

sábado, 10 de outubro de 2009

Cultura inútil (3)

O POETA MORRE PELA BOCA

O governador chorou duas vezes esta semana. Seus nervos de aço foram engraxados por lágrimas. Nada engraçado, tudo enganchado, alguns agachados, outros grudados, poucos guindados. Esta semana fui ao velório de um amigo e aproveitei para conferir as acomodações no Parque das Primaveras. Não tenho nenhuma pressa em mudar para esse condomínio, mas seguro morreu de velho. O dolar continua caindo, a bolsa subindo e meu bolso furado, ferrado nas contas, gravado nas custas, montado nas costas, encostado no barranco, torcendo pro Barrichello, secando o Michellete, abrigando o Zelaya, devastando os laranjais, contratando os laranjas, aparando as franjas, babando nas fronhas, afrontando ninguém, comprando provas do Enem e do concurso também, o recurso que não tem, o xerém que dá o caldo, a cauda que abana a mosca, a calda que adoça o bolo, a bola que embola, a bala que abala, a bula que abole, a boléia que cabe, o cobre que compra, o pobre que cumpre, o comprido que encolhe, o cumprido que escolhe, o descabido que tolhe, o tolo que atola, a tola que se apaixona, a bolha que fura, o homem-bomba que explode, o bode que cheira, a cera que se liquefaz, a paz que se desfaz, o satanaz aposentado, o Lázaro sepultado, o ícaro depenado, o ácaro cultivado. Você já foi à expô hoje? O Maia acaba de inventar a exposição agropecuária sem gado. Engodo? Engano? Esganado? Eu tenho tuitado adoidado, seguindo em 140 caracteres o melhor caráter e as características mais acentuadas, as estatísticas mais aproximadas, as aproximações mais distantes, o destaque necessário, a necessidade premente e o político que apenas promete.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Sem terra e sem juizo

Quem vai segurar o MST?

Minha simpatia pelo MST vem de sua fundação em meados da década de 80 do século passado. Minha atividade política tem estreita relação com o movimento, do qual me afastei quando este decidiu ampliar suas ações para além da luta pela reforma agrária. O MST se transformaria em partido político, abrigado no PT, assumindo o papel de vanguarda da revolução socialista brasileira à esquerda da tradicional esquerda brasileira, com vocação nitidamente marxista. Como democrata pluralista não o hostilizo, porque defendo o regime da tolerância ideológica, onde todos possam igualmente professar seus postulados. Algumas atitudes do MST são perfeitamente assimiladas pela democracia. Até a invasão de terras improdutivas, tida como um atentado ao direito de propriedade, é justificável em seus critérios de radicalidade. O que é condenável e desacredita-o é sua ação predatória contra o patrimônio público ou privado. O vandalismo contra um canteiro de mudas da Aracruz no Rio Grande do Sul e a recente devastação de um laranjal no interior de São Paulo, estão longe de um partido revolucionário e muito perto de uma organização com características anarquistas ou completamente acéfala. Estes atos de destruição gratuita subvertem a ordem e remetem-no ao obscurantismo social e à clandestinidade política. As reformas e as revoluções nascem dos sonhos e até da utopia, mas só se consolidam na prática de atos calculados e possíveis, tendo como objetivo comum o bem-estar das pessoas.Por isso não creio que esta explosão de ódio e improvisação do MST seja produto da cabeça de um Stedile ou Egídio Brunetto.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Aconteceu a 8 de outubro

Um pouco da História do Estado do Pantanal

1886 – Inaugurada estrada Campo Grande-Porto XV de Novembro.

Foi uma verdadeira odisséia a construção dessa estrada boiadeira. Seu incorporador foi Manoel da Costa Lima, que a abriu para tirar o Estado do isolamento e transportar o vapor Carmelita, lancha a motor, adquirida no Paraguai, com a qual iniciaria o serviço de travessia do rio Paraná. De Concepcion a Campo Grande, “navegara rio Paraguai acima, penetrando no rio Miranda e depois no rio Aquidauana, ancorando na fazenda Sto. Antonio na barra do Taquarussu. Com 200 bois de carro emprestados e 20 peões escolhidos a dedo, praticamente desmontaram a lancha e distribuídas suas partes nos referidos carros, encetaram grande epopéia de leva-la até às barrancas do rio Paraná, na divisa com São Paulo.
Sem dispor de qualquer das ferramentas e máquinas que hoje conhecemos, mas tão somente da força física de homens e animais, de coragem e vontade férrea, serra de Maracaju acima, serra abaixo, brejos e atoleiros, pedreiras e areal, travessias em fundos de vales, viagem lenta e morosa por mais de 60 dias até o arraial de Sto. Antonio de Campo Grande. A lancha fazia parte de seu sonho, a construção de uma estrada boiadeira; era sonho e determinação, teimosia e coragem deste homem, obstinado de realizar uma obra que foi fundamental para o futuro de Mato Grosso e do Brasil.”
A estrada era um sonho que Manoel da Costa Lima acalentava há vários anos, até conseguir autorização do governo estadual e ajuda de colegas fazendeiros. Em Campo Grande reuniu nova comitiva e partiu para a empreitada:
“A abertura foi feita com traçadores, machados, enxadas e facões, de 325 km de caminho bravo de Campo Grande às barrancas do grande rio Paraná. Pagou com sua própria fazenda Ponte Nova, na barra do Inhanduizinho, os serviços do agrimensor francês Emílio Ravasseau.
Manoel da Costa Lima fez novamente penosa viagem, partindo de Campo Grande, buscando a barra do ribeirão do Lontra com o Inhanduí, onde chegaram após 15 dias de trabalho duro e sofrido, transportando a lancha destinada a rebocar as balsas-currais que mandara construir para a travessia do rio Paraná. Nesse local providenciaram a instalação de uma oficina para a remontagem da lancha Carmelita para seu posterior prosseguimento por hidrovia.
Chegando com a abertura da estrada até às margens do grande rio, junto à barra do rio Pardo, ali organizou-se o acampamento com alguns ranchos: o local foi denominado Porto XV de Novembro.
No dia 8 de outubro de 1906, era inaugurada a ligação comercial Mato Grosso-São Paulo, uma estrada boiadeira desbravada entre 1900 e 1906. Depois de pronta, o governo do Estado resolveu oficializar a estrada a qual foi recebida pelo agrimensor José Paes de Faria.” *
A ligação entre Campo Grande e Porto XV, trechos das BRs-163 e 267, donomina-se Rodovia Manoel da Costa Lima, em homenagem ao pioneiro.

* Edgar Zardo, Do Prosa ao Segredo, p 35.

De meu livro DATAS E FATOS HISTÓRICOS do Sul de Mato Grosso ao Estado do Pantanal, Edipan, 2001.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Cultura Inútil (2)

NADAR NA DOR

Chorar de dó, dosar o perigo, dourar a pílula, adorar o labor, elaborar o programa, proclamar a república, republicar a errata, erradicar a gripe, engrupir o golpista, engruvinhar o liso, engravidar a árvore, alvorecer a primavera, arvorar-se de poder, apoderar-se da razão, podar na contramão, contrariar o coração, contrapor o argumento, argüir a testemunha, aguçar a tendência, pender ao vento, padecer no paraíso, paragrafar a prosa, parafrasear o verso, paradoxar o tema, tematizar a crise, crasear a frase, cruzar a linha, alinhavar a desculpa, esculpir a obra, esculcar o escudo, ocultar a verdade, verdejar o branco, verberar o eco, ver de perto o estrago, estranhar o amigo, extravasar o ódio, estrangular o tráfego, traficar a influência, estratificar os dados, transitar sem travas, atravessar sem curvas, trovar sem rimas, turvar a sorte, sortear as vestes, sortir os desejos, surtir os efeitos, efetuar o conserto, efetivar os conceitos, enfeitar os confeitos, conferir os números, confessar o crime, confundir os nomes, nominar os bois, abominar as dores, abonar as faltas, falsear os fatos, fastiar o apetite, fantasiar a vida, vitaminar o prato, visualisar o pranto, vistoriar a sombra, assombrar a casa, sobraçar a causa, soçobrar a soma, assomar a ladeira, assonar os rumores, rumar à esquerda, arrumar a mesa, arrimar o fraco, fracassar no trato, franquear o fraque, fraquejar na hora, orar por santidade, assenhorar-se da verba, chorar de mentira, mitigar a sede, mixar o ruído, mijar na parede, parecer favorável, espairecer recomendável, perecer inevitável, inviolável honradez, notável desfaçatez, reprovável atitude, plenitude ignorada, saúde comprometida, ataúde encomendado. A morte não dói.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Cultura inútil

GÊNIOS GEMINADOS

Tem dias que a gente não sabe por onde começar, terminar é um problema, esquemas não funcionam, fracionam os argumentos, seguimentos se atropelam, assovelam-se os temas, os fonemas desafinam, desanimam inspirações, aspirações debilitam-se, limita-se o improviso, o conciso não propaga, a saga não desenvolve, dissolve-se o pensamento, o advento não aparece, se esquece o decorado, depurado se mistura, a candura se astucia, as manias se repetem, os confetes não convencem, vence a apostasia, a portaria não regulamenta, o penta não chega a cinco, o afinco não persiste, o chiste não faz rir, o pedir sequer convence, os pertences não têm dono, o sono é só pesadelo, o selo não estampilha, a pilha descarregou, o calor não aqueceu, perdeu o porfiante, o confidente entregou, o pastor vendeu a ovelha, a orelha esquentou, marejou na despedida, a saída é só um beco, o seco esturricou, melou o melhor negócio, o ócio não remunerou, calou fundo o silêncio, o consenso retrogradou, se fechou mais uma porta, a torta não saciou a fome, o homem tem ficha suja, a lambuja não pintou, o cantador desafina, desatina o comedido, ofendido não perdoa, garoa não molha o solo, consolo não satisfaz, a paz não traz a trégua, a régua não faz o traço, o braço não sustenta o peso, o teso amolece, cresce o carrapicho, o bicho escapa, o mapa não indica, a dica era furada, a parada é federal, o mal não veio para o bem, ninguém quis testemunhar, compartilhar nem se fala, bala perdida acerta, aperta o nó na garganta, a santa não faz milagre, o bagre levou a isca, a bisca lesou o troucha, a trouxa se desfez, o freguês negou a conta, a ponta feriu o feto, o objeto voador foi identificado, o recado não foi entendido, o marido foi o último a saber e o poeta não pediu desculpa pela completa falta de rima.

sábado, 3 de outubro de 2009

A vingança do Moura Brasil

Por que a gente mata as pessoas que a gente gosta?

O dia em que eu matei o Moura Brasil caiu um dia depois da morte do Ramão Achucarro e um dia antes da morte, também natural, do Antonio Carlos Pastel. Antes eu havia matado o Papa João XXIII. Vítima de um atentado, a 13 de maio de 1981, ao soar o tiro fatal, não tive dúvida, subi à tribuna da Assembléia e compadecido arranquei-lhe o último suspiro. Depois deste incidente o santo padre viveria ainda, mais 24 anos. Alguém, por desinformação ou por maldade, me liga para convidar à missa de 7º dia do Moura Brasil. Eu, mais que depressa, como faria o próprio Moura, antes de aposentar-se, instiguei o instinto de foca, e preparei logo, mesmo tardiamente, um réquiem, abrindo um espaço nesta página para a última homenagem ao colega. O dia que eu matei o Moura Brasi foi o mais feliz de minha vida, ao ligar o rádio do carro e ouvir do próprio Moura Brasil a notícia de que, aos 72 anos, estava vivo e feliz. Fiquei aliviado por ter cometido a irresponsabilidade e segui minha volta para casa, até parar em frente ao cemitério Santo Amaro, atraído por uma pequena multidão que acompanhava um enterro. Era muita gente, só poderia ser de defunto graúdo. Estacionei o carro, desci e dei de cara com uma anciã, com cara de vivandeira. - Oi tia, a senhora sabe quem morreu? - Não tenho certeza, meu filho, mas me falaram que foi um tal de Pau na Mula. Falou isso e sem ligar uma coisa a outra, perguntou-me: Você não é o Sergio Cruz? O Papa e o Moura Brasil estavam vingados.

TWITTER

VIA MORENA.COM, a priimeira tv web de Mato Grosso do Sul deu passo decisivo a caminho da imagem em alta definição.Passou a operar com servidor dedicado. SITUAÇÃO DRAMÁTICA a do deputado Diogo Tita. Não quer deixar o PMDB, mas tem medo de ficar no partido e não conseguir votos para continuar deputado. SUPLENTES DE VEREADORES alvorotados com a PEC do vereadores estão atropelando os presidentes das câmaras que não têm a menor pressa de empossá-los. EDSON GIROTTO não atende jornalistas em seu gabinete. Esta é a reclamação de muitas coleguinhas. Se não atende hoje que é secretário, imagine se virar deputado. CARLOS MARUN, secretário de Habitação é outro que esnoba a imprensa. Sua assessoria marca e não dá retorno. Nada como estar antecipadamente reeleito. O EX-GOVERNADOR Zeca do PT pode prejudicar todas as empresas de comunicação caso consiga suspender na justiça a propaganda oficial. Quer fazer o mesmo que fez no governo dele. LAURO DE DAVI, presidente da Cassems, será candidato a deputado estadual pelo PSB. LUIS CARLOS BONELLI, ex-superintendente do INCRA, também sai para estadual. Os dois deixaram o PT.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Aconteceu a 01 de outubro

Um pouco de História do Estado do Pantanal

1777 – Assinado Tratado de Santo Ildefonso. A rainha de Portugal e o rei da Espanha, seu irmão Carlos III, firmam o Tratado de Santo Ildefonso, que a exemplo do Tratado de Madri de 1750, reconhecia os rios Paraguai e Guaporé como limites de suas possessões na América do Sul. “Portanto – informa Lécio G. de Souza – os territórios da margem direita do primeiro dos rios voltavam a ser espanhóis e, assim, tanto Coimbra com Albuquerque estavam fora dos domínios lusitanos.” O governador da província de Mato Grosso, Luis de Albuquerque e Cáceres, desrespeitou o tratado:
“Não era norma albuquerquiana retroceder e o seu arbítrio de se manter ao ocidente do grande rio, calcado em atos de posse anteriores, não iria sofrer qualquer recuo.” 1

1912 – Costa Marques em Aquidauana. A vila de Aquidauana, recém alcançada pelos trilhos da Noroeste, procedentes de Porto Esperança, recebe a primeira visita de um presidente de Estado. Trata-se de Joaquim Augusto da Costa Marques, que em sua mensagem à Assembléia inclui o seguinte depoimento sobre a povoação:
“No dia 1 de outubro partimos de Miranda e chegamos a Aquidauana. Esta vila, de recente fundação, é entretanto, atualmente, a maior e mais populosa do Sul do Estado. É dividida em duas partes pelo formoso rio Aquidauana e a comunicação entre uma e outra é feita por meio de uma pequena barca-pêndula. Reclamam os seus habitantes e a municipalidade a construção de uma ponte que realmente é muito necessária para facilitar essa comunicação entre o importante bairro da margem esquerda com a povoação da margem direita, e que muito desenvolverá também o seu comércio, feito por via terrestre e já bastante animado com os municípios de Nioaque, Campo Grande e Bela Vista. O 5º Regimento de Artilharia que ali tem sua sede, está aquartelado sobre a margem esquerda em uma casa velha de telha e outras de capim que despertam a idéia de um acampamento provisório, e que está em desarmonia com a beleza e propriedade do local. A vila está bem situada, o seu clima é bom e o seu futuro prometedor. Já se notam muitos prédios novos e muitos outros em construção, sendo bem delineadas e cuidadas as suas ruas e praças. A Estrada de Ferro Noroeste que ali tem uma estação, pretende estabelecer nessa vila as suas oficinas, tendo a edilidade lhe oferecido terreno apropriado para esse fim.
As escolas públicas dessa localidade, sendo uma de sexo feminino e outra de masculino, estão instaladas em casas particulares, alugadas. Por falta de uma casa, ainda não se pode instalar outra à margem esquerda do rio, cuja população escolar já comporta uma boa escola, e o Governo, de acordo com a municipalidade está tratando de adquirir uma casa nesse bairro para esse fim, pois atualmente as crianças são obrigadas a fazer, com risco e perigo, a passagem do rio para freqüentarem as escolas existentes na povoação da margem direita. É muito necessária a construção de um bom prédio destinado ao funcionamento das escolas reunidas, dado o aumento crescente da população dessa vila. A cadeia pública de Aquidauana, conquanto uma das melhores que encontrei no sul, não satisfaz e não tem compartimento para prisão de mulheres.
Mandei melhorá-la e construir ao lado cômodos para alojamento da força policial e murar o quintal. A municipalidade de Aquidauana ainda não tem casa própria. A estação telegráfica tem um aspecto agradável, porém é muito pequena em relação ao movimento do serviço. A vida é cara e o aluguel das casas bastante elevado, devido ao rápido aumento da população e morosidade das construções por falta de material e operários. Há várias casas de negócio regularmente sortidas, tanto na margem direita como na esquerda do rio. Visitei entre outros estabelecimentos particulares uma boa instalação a vapor para o fabrico do pão e da massa e torrefação de café. É a melhor que conheço no Estado e está na povoação na margem esquerda. A principal indústria deste município como de todos os outros do sul do Estado é a pecuária e a sua população bovina foi ultimamente calculada pelos principais criadores e pelo intendente em cerca de 126.000 cabeças; eqüinos 2.800; muares 450; caprinos 250; lanígeros 600; suínos 2.500.”
Na mensagem presidencial uma preocupação com o meio ambiente local:
“Notei e por toda parte reprovei, o mau costume que ali se tem, de se estabelecerem as habitações à montante das cabeceiras, prejudicando imensamente as vertentes, algumas das quais já estão quase extintas. É que essa gente confia demasiado naquela ubérrima e opulenta natureza, e por isso não pensa nem acredita que ela possa esgotar-se, nem sabe avaliar o mal futuro que a si próprio está fazendo.” 2

1 - Lécio G. de Souza, História de Corumbá, p 36.
2 - Album Gráfico de Mato Grosso, 395.

De meu livro DATAS E FATOS HISTÓRICOS do Sul de Mato Grosso ao Estado do Pantanal, Edipan, 2001. pp351, 352 e 353.