sexta-feira, 26 de março de 2010

Manual de cultura inútil

O mosquito da dengue não tem preconceito e se acha no direito de atacar até senador. O aedes egipt tem espírito republicano. Não pica por engano, não age por baixo dos panos, não procria em água suja e resiste ao fumacê. Eu prefiro ser picado pela mosca azul, mordido pelo pit bull a ser vítima de uma dengue por menos hemorrágica que seja, por mais fraca que possa vir, por mais falsa que seja ao sorrir, por mais devassa que esteja ao ficar, por menor que veja ao redor, por pior que aja ao melhor, ainda prefiro a paz das noites mal dormidas, a lamber as feridas não cicatrizadas, a errar as entradas permitidas, a caminhar as estradas sem atalhos, a carregar as espigas sem atilhos, a juntar todos os entulhos, livrar-me de todos os bagulhos, limpar os velhos bugalhos, mijar no assoalho, fazer cara de paspalho, espalhar os rumores mais atrozes, atroar os ruídos mais agudos, entoar os cantos mais antigos, enjoar os gostos mais contrafeitos, esboçar o gestos menos convencionais, convencer o mais cético dos mortais, acessar todos os portais, incensar os mais imbecis, inocentar os mais culpados, inculpar os inocentes, inculcar as preferências, proferir o resultado, resumir o arrazoado, rasar o razoável, presumir o ponderável, prevenir o imprevisto, improvisar o discurso, dispensar o recurso, dispersar a massa, massacrar o meio, casar em maio, rechear a meia, mediar o conflito, configurar a página, pajear a cria, criar um clima, climatizar o tempo, contemporizar a contento, contestar o descontente, descontar o deságio, desajeitar a rotina, desajustar o pacto, depenar o pato, desempenar a ponta, desempenhar o cargo, despachar a carga, jogar uma praga e pagar pra ver.