quinta-feira, 23 de agosto de 2007

A lei do silêncio

NADA A DECLARAR

Se você quiser conhecer a verdade crua, desligue a panela. Se você quiser conhecer a verdade nua, tire a roupa, derrame a sopa, quebre o copo, tope a briga, empurre com a barriga, faça figa, fisgue o peixe, queime o feixe, deixe como está pra ver como é que fica. A verdade não é verde. Ver de verdade não é ver de perto. Longe disso. Quanto mais distante mais próximo. Quanto mais próximo mais próspero. Quanto mais próspero menos provecto, mais perverso, convexo, confrade nos conchavos, compadre nos achegos, com pedras nos atalhos, com padres nos altares, com massa nos halteres, no alferes e seus galões, no sagão do aeroporto, no caixão do homem morto, no conforto das alcovas, no plenário do congresso, no regresso à vida em tempo real. A verdade, nada mais que a verdade, na manchete do jornal da tarde, no álibi do covarde, no cálice da eucaristia, no texto da homilia, no vazio da noite fria, no pavio da luz acesa, no redil de cabras presas, esperando pra dar leite, na duplicata vencida, na catarata operada, na operação de somar, na conta de vezes quanto, quanto tempo aproveitado, tantas noites mal dormidas, enquanto houver vida não haverá esperança, quem espera nem sempre alcança, quem mais cansa nem sempre chega primeiro. Farinha pouca meu pirão primeiro, segundo a lei do mais forte. A sorte não se enquadra na lei das probabilidades.

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