segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Ignorâncias

CRER OU NÃO CRER

Eu não acredito no que vejo, vejo o que não quero ver, ver de verdade, de olhos vendados, de olhares vedados, sedados, cedidos, assediados, cagados-de-aranha. Ver tudo é virtude. Tem gente que vê pelos olhos singelos do doutor Ponglós e sente pelo coração sagaz do senador Renan. Ver e sentir eis a questão. Questionar o que vê. É assim que tem que ser. Nada é o que parece. Nem tudo sente aquele que perece. Quase tudo se merece. Cresça e apareça. Depois dos sessenta se sente idoso, inditoso, indiciado e pode até furar a fila, ocupar a calçada, mijar nas calças, calçar meias ao avesso, arrevesar a ordem das coisas, coisificar as causas, calcificar o caos, qualificar o caule, caulificar o medo, remediar os modos, arremedar o Midas, arremessar os credos, acreditar em bruxas. Eu sou um crédulo. Creio no que não vejo, mesmo que seja um simples monstro do lago de Ness ou até uma invulgar mula-sem-cabeça, destas que andam por aí batendo cabeça. Cabeça calva, salva, ligada, logada, plugada no amanhã. Quem sabe, depois de amanhã. De noite, de tarde ou de manhã, curado ou malsão, sanado ou malsinado, vacinado contra a infelicidade. O homem feliz usava camisa de marca, marcava a alternativa correta, mascava fumo de rolo, rolava de rir da desgraça, e se fosse engraçado até passava o sinal fechado. Minha cabeça acaba de fechar pra balanço.

Nenhum comentário: