sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Auto de renúncia

FÉ DE OFÍCIO

Esta semana eu conheci o bar do gato, um gueto alegre na periferia desta cidade periférica, suburbana, desumana, criame de aedis, sede da copa, copasul, copo cheio, saco vazio, menina dos olhos do presidente, fada madrinha do governador, discurso laudatório do vereador, robin hood à avessas, bicho preguiça com pressa, feliz aniversário, inditoso adversário, indigesto prato feito, feitos feito sem mérito, pretérito passado em branco, vidas passado a limpo, alternativas corretas, rogativas escorreitas, curvas e linha reta, muletas e bengalas, muito som e pouca fala, bala na agulha, fagulha na gasolina, patrulha na esquina. Ah! Que saudade que eu tenho de uma mesa de bar, um joguinho de bozó, uma roda de tereré, um tetetê de bolicho, com espetinho de gato, farofa fria no prato, alegria no barraco, entulho no buraco, cutelo no baraço, muita luz no embaraço, muitos braços estendidos, gestos obscenos, pouco mais e muito menos, quase nada do que temos, é tudo que queremos da lei que não cumprimos, do livro que não lemos, do leme que não contemos, do rumo que não seguimos, do ramo que escolhemos. O Josino é o meu ídolo, a Neli é o ícone de uma idade sem dores, no tempo em que a primavera ainda era a estação das flores. O Barbosires é o meu poeta favorito. Poeta que não rima é lima que não amola. Profeta que não prevê não tem nada a ver. Põe vasilha na goteira que vai chover. Tira o lixo da calçada que hoje não é dia de gari. Relaxa, esculacha, baixa a guarda, guarda o medo, abre o segredo, segrega o ódio num sorriso largo, larga a mão das ambições que caixão não tem gaveta, como diria o inominável Rui Pimentel. Quem achar que é diferente que pague pra ver.

Nenhum comentário: