sábado, 5 de setembro de 2009

A paíxão índia de Taunay em Piraputanga

Eu sempre achei que a propalada paixão do tenente Taunay (autor de Inocência e Retirada da Laguna) por uma índia no sul de Mato Grosso, durante a guerra do Paraguai, fosse uma lenda. Havia lido praticamente todas as obras dele e não encontrara nenhum registro desse fato. Graças a um diálogo no Tweeter recebi a informação de que havia um registro definitivo, deixado pelo próprio Taunay. Está exatamente no seu livro de Memórias, o mais recente de meu acervo deste autor que por falta de tempo deixei de ler. Estou lendo-o agora e já encontrei duas passagens onde Taunay fala sobre seu romance aborígene. O primeiro (página 201) ele descreve-a “Antonia, uma bela rapariga...da nação chané...muito bem feita, com os pés e mãos singularmente pequenos e mimosos, cintura naturalmente acentuada e fina, moça de quinze para dezesseis anos de idade, tinha rosto oval, cútis fina, tez mais morena desmaiada do que acaboclada, corada até levemente nas faces, olhos grandes, rasgados, negros, cintilantes, boca bonita ornada de dentes cortados em ponta, à maneira dos felinos, cabelos negros, bastos, muito compridos, mas um tanto ásperos.”

Mais adiante (p 207) Taunay abre seu coração:

“Voltando ao que me é mais particularmente atinente, salientarei quanto a vida correu para mim agradável e quieta nessa quadra de maio, junho e começos de julho.
A bela Antonia apegou-se logo a mim e ainda mais eu a ela me apeguei. Em tudo lhe achava graça, especialmente no modo ingênuo de dizer as coisas e na elegância inata dos gestos e movimentos. Emebelezei-me de todo por esta amável rapariga e sem resistência me entreguei exclusivamente ao sentimento forte, demasiado forte, que em mim nasceu. Passei, pois, ao seu lado dias descuidosos e bem felizes, desejando de coração que muito tempo decorresse antes que me visse constrangido a voltar às agitações do mundo, de que me achava tão separado e alheio.
Pensando por vezes e sempre com sinceras saudades daquela época, que parecer-me que essa ingênua índia foi das mulheres a quem mais amei.”

Antonia, antes de conhecerem-se, era amante de um colega de Taunay, o tenente Lili. A história daria um romance.

Referência:

Taunay, Memórias, Editora Melhoramentos.

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