domingo, 15 de julho de 2007

Na paz da praça

QUEM DISSE QUE AS ROSAS NÃO FALAM?


A praça continua a mesma. A mesma fonte luminosa, a mesma moita de babosa, a mesma estátua famosa, a mesma rosa na roseira perseguida pelas saúvas de sempre, ativas, atávicas, ataviadas com seu naco de folha enfumada, pisada pela sandália sagrada no pé do salgado monsenhor, meu censor de bom senso, sem consenso. A propósito, esta semana a moça do Censo por fim passou e me recenseou. Agora eu sou um número que conta no total. Deixei de ser aquele desprezável conjunto vazio na estatística, passei a fazer parte do cadastro nacional. Isto é ótimo para a receita federal, o serasa e o SPC. Doravante qualquer um pode jurar que eu existo, acessar o meu registo, resistir aos meus encantos, encantar meus desalentos, desabrir meu mau humor, desabrigar meus caprichos, caprichar na indiferença, provocar a resistência, renovar velhas crenças, reestocar a despensa, dispensar a reverência e despencar no precipício. A praça continua no mesmo lugar. O rostos na praça continuam os mesmos, a esmo, na dúvida, na dívida, no cheque pré, no celular pós, na loção pós barba, na braba faina do rigor da fauna de homens desalmados, nesta flora insana de concreto armado. A praça é a ponte entre o cartão de crédito e a inadimplência.

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