sábado, 10 de outubro de 2009

Cultura inútil (3)

O POETA MORRE PELA BOCA

O governador chorou duas vezes esta semana. Seus nervos de aço foram engraxados por lágrimas. Nada engraçado, tudo enganchado, alguns agachados, outros grudados, poucos guindados. Esta semana fui ao velório de um amigo e aproveitei para conferir as acomodações no Parque das Primaveras. Não tenho nenhuma pressa em mudar para esse condomínio, mas seguro morreu de velho. O dolar continua caindo, a bolsa subindo e meu bolso furado, ferrado nas contas, gravado nas custas, montado nas costas, encostado no barranco, torcendo pro Barrichello, secando o Michellete, abrigando o Zelaya, devastando os laranjais, contratando os laranjas, aparando as franjas, babando nas fronhas, afrontando ninguém, comprando provas do Enem e do concurso também, o recurso que não tem, o xerém que dá o caldo, a cauda que abana a mosca, a calda que adoça o bolo, a bola que embola, a bala que abala, a bula que abole, a boléia que cabe, o cobre que compra, o pobre que cumpre, o comprido que encolhe, o cumprido que escolhe, o descabido que tolhe, o tolo que atola, a tola que se apaixona, a bolha que fura, o homem-bomba que explode, o bode que cheira, a cera que se liquefaz, a paz que se desfaz, o satanaz aposentado, o Lázaro sepultado, o ícaro depenado, o ácaro cultivado. Você já foi à expô hoje? O Maia acaba de inventar a exposição agropecuária sem gado. Engodo? Engano? Esganado? Eu tenho tuitado adoidado, seguindo em 140 caracteres o melhor caráter e as características mais acentuadas, as estatísticas mais aproximadas, as aproximações mais distantes, o destaque necessário, a necessidade premente e o político que apenas promete.

Nenhum comentário: