quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Desistência

CONTRA O VENTO

É tempo de remar, de arrumar, de rimar, de ramear e de rumar rumo ao mar. O mar já não maremota, a marmota já não espanta, o espantalho não assusta, o assunto não interessa, o interesse não tem pressa, a pressão não comprime, o comprimido não cura, o curau não mata a fome, a fama não faz a cama, a camada não cobre, a cobra não pica, a picada não atalha, a talha não tem água, a aguagem não irriga, a briga não resolve, o revólver não atira, a tira não amarra, o tira não prende, o prendedor não segura, o seguro não paga, o toureiro não pega, o Pégaso não voa, o vôo não decola, a degola não decapita, a renda per capita não capitaliza, o capital não capitula, o capítulo está incompleto, o complexo é decifrável, o decíduo é recém-nascido, o nascituro está caduco, o cafuzo é branco, o confuso é franco, o flanco não é lateral, o literal não traduz, a introdução não prefacia, a profecia erra, a guerra não mata nem aleija, a lei já foi revogada, a revolta incitada, a citação equivocada, a cotação fraudada, a fralda descartada, a bandeira desfraldada, o frade degenerado, os gêneros desnecessários, o gênios atrabiliários, o gêmeos dessemelhados, a gema falsificada, o gemido doloroso, o gesto não amistoso, o gosto duvidoso, o duto obstruído, o dente obturado, o obtuso delgado, o obscuro ilustrado, o ilustre desconhecido, o lustre desbotado, o lastro embotado, a listra desbotada, o lustro passado, o luto aliviado, o aluvião erosivo, o erotismo impotente, a impostura relevante, a revelação velada, o velame indisfarcável, o volume imensurável, a vileza perdoável, a invalidez permanente, a placidez turbulenta, a lenta agonia da vida. A esperança é a primeira que morre.

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