sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Os fiéis

DONO DO MEU MANDATO

Sou fiel aos meus princípios, meio e fim, ao meu partido repartido, à minha parte no bolo, ao meu bolo de mandioca, meu pacote de pipoca, o retiro na biboca, a porção de paçoca, o esplendor da pororoca, o temor à voçoroca, o instrumento que se toca, o momento de prazer, o prazo para pagar, o colírio pra pingar, o delírio pra gozar, gozar o feriado, o mugunzá requentado, o ganzá agitado, o ganso ensopado, o guizo sacudido, o saco sem fundos, o fundo de pensão, a fenda na barragem, o fim do mundo. Afinal, de quem é o mandato? É do partido que elege, do candidato eleito ou do eleitor que vota por um discurso bem dito ou um bendito par de botas, uma promessa de bosta, uma posta de alimento, elemento essencial, essência natural, exigência duvidosa, dúvida não esclarecida, dívida multiplicada, dadivoso amanhecer? Sou fiel aos meus, os seus não sei, aos seus não serei. Fiel por lei, lei da fidelidade, dura lex. Lei do cinto de segurança, do cinto de castidade, lei de Deus e lei do diabo, do pepino, do quiabo, do menino, do mancebo, do que dorme cedo e acorda tarde, da labareda que arde, do covarde e do ousado, do usado e do novo, do povo e do indivíduo, do indiviso e do fendido, do fedido e do fragrante, do flagrante e do remoto, do remorso e do perdão. Sou fiel ao mel e ao fel. Ao mel que lambuza, ao fel que se obriga, ao céu que abriga, à briga perdida, a braga rompida, a braguilha aberta, abertura indiscreta, fechadura emperrada, fortuna enterrada, fartura interrompida, gosto estragado, estrago reparado, encargo completado, completo abandono, completamente errado, erado no tempo, ajoelhado no templo, chegado no campo, suado no trampo, fechado com tampa, estampado com selo, selado com zelo, zerado outra vez, rezerado. Enquanto a lei não é regulamentada vou sendo fiel à minha infidelidade.

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