sexta-feira, 26 de outubro de 2007

A nexo

VOLTANDO ATRÁS

Sou dono do meu nariz, aprendiz de feiticeiro, o primeiro a reclamar. Quem chora é porque não mama, quanto mais mama mais quer, quem quer sempre dá um jeito de encontrar uma teta vaga, uma viga mesmo deitada, uma vogal mesmo muda, uma mudança de rumo, um ramo pra se benzer, um remo pra navegar, uma estrofe pra rimar, um remorso pra ruminar, um amor para esquecer, um edredom para aquecer, tudo de bom para aquiescer, um som para curtir, um curta para assistir, uma carta para avisar, um aviso pra sair, uma saída honrosa, uma honra em receber, um recibo assinado em branco, um negro assaltado no banco, um banco vazio na praça, preço maior que a inflação, dor menor que a inflamação, calor de quarenta nem corumbaense agüenta. Meu nariz não é mais aquele. Não decide seu destino, não destina seu querer, nada do que quer alcança e até mesmo a esperança está tendo que esperar. O tráfego de influência está totalmente congestionado. A ponte para quem indica ruiu, a fonte dos que ficam secou, o fundo do saco furou, o furor dos excluídos se alastrou, o tapete alguém puxou, o topete baixou sozinho e o solzinho da manhã não deu nem pra quem precisava. Devagar com o andor que o santinho é de pau oco, que o mouco está ouvindo, o louco lucidou, o lúcido endoidou de vez, a fruta madurou, a truta engoliu a anzol, a treta está armada e trota quem não galopa. Galo que não canta cai do poleiro. Sabiá que vai buscar capim perde o ninho pro chupim. Tudo pode ser resumido em um trocadilho infame, numa palavra que inflame, um enxame alvorotado, um exame negativo, um exímio jogador, um acérrimo arrazoado, uma razão para se arrepender. Eu, com certeza, não faria tudo outra vez.

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