quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Manual de cultura inútil

CRUZ CREDO

Vou rezar para que o frio deste ano seja menos intenso, o infenso a este plano seja menos tenso, o incenso deste pano seja mais extenso, o pretenso desengano seja imaginário, o salário deste mês seja pago em dia, a orgia desta noite ganhe o madrugada, a charada deste jogo seja decifrada, a escada deste aclive seja declinada, a estrada para o fim não tenha começo, o preço do produto não seja onerado, o onerário absoluto não seja incapaz, o tenaz resoluto não seja hesitante, o bastante necessário seja razoável, o arrazoado estanque sopese os sopapos, o bate-papo amigo não me morda a língua, a língua que se fala seja inteligível, o nível que se tira não seja tirano, o cano que se entra tenha uma saída, a ferida que se lambe seja desferida, o deferimento requerido seja concedido, o concebido espontaneamente seja consentâneo, o consentido compelido seja incompatível, o corruptível incorrigível tenha comiseração, o comissurante ativo seja muito mais altivo, o donativo anônimo não tenha dono, o sono relaxante não dê pesadelo, o pesadume crônico nunca recrudesça, o recruzetado espante seus vampiros, os papiros secretos revelem seu teor, as teorias exóticas ocultem seu temor, o tumor aberto feche sua dor, o calor flamante flame a inflamação, a inflação galopante esteja para sempre amansada, a maçada inopinada seja revertida, a investida arrevesada seja repetida, repetente contumaz seja jubilado, júbilo reprimido seja represado, retesado comprimido seja relaxado, relatório incompleto vá para o arquivo, esquivo incorrigível que entre na roda, moda antiga seja recobrada, cobranças reavidas permaneçam recobertas.

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