sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Manual de cultura inútil

MEUS NATAIS

Eu sempre quis escrever uma coisa no Natal que fosse original. Alguma alegoria que não fosse um jogo de palavras rebuscadas. Uma mensagem profunda, daquelas de sair à rua no dia seguinte e ser abordado por pessoas compenetradas para trocar impressões. A primeira tentativa foi um memorial de meus tempos de criança. A história comovente de um menino nordestino, pau de arara, que conheceu o Papai Noel aos dez anos de idade e assustou-se com aquele velho gordo de barbas desalinhadas e corpo suarento ao peso de um enorme saco de brinquedos baratos. Eu ganhei um pião. Joguei o pião. Mudei de idéia. A história era muito comum e não tinha nenhuma originalidade. Quem estaria interessado por um garoto pobre, quando as uneis estão cheias deles, cheios de ódio, de cores diversas, de dores constantes, de amores ausentes, descrentes de todos, de todo inclementes, de tudo ausentes, de frente pra morte, consortes do azar, asados para a fuga da maioridade. Melhor mesmo seria o lugar comum, com o jingle bell, noite silenciosa, muito espumante e um abraço comovente depois da missa do galo. Jesus fez tudo certo: nasceu na noite de Natal, na hora da missa do galo e teve uma infância bem diferente de seus contemporâneos dos morros de Jerusalém. Aprendeu carpintaria com seu pai e deixou tudo para ser pastor evangélico. Hoje, com certeza, seria twiteiro e já começaria com doze seguidores. Ainda não foi desta vez a vez da felicitação original de Natal. Vou parar que tá me dando fome.Vou comer meu panetone.

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