domingo, 9 de março de 2008

Imprudências

DESMORRENDO

O homem feliz usava camisa de linho branco, no banco sentava na cadeira do gerente, à frente do seu tempo decretava horário de verão, varão varou noites fecundando, fecundo acumulou valores inestimáveis, estimável galgou todos os degraus da fama, famigerado pagou o preço, apressado chegou primeiro e bebeu água limpa, límpido brilhou onde pisou, pisado pesou sob o pé que o apertara, apartado voltara ao meio em meio tempo, temporão apressou o passo e amanheceu com o sol, solitário ganhou o tempo refletindo, refletido sorriu para parecer feliz, felicitado fingiu não merecer, merecedor não abriu mão, de mão-cheia não se satisfez, satisfeito não se desfez da sobra, sóbrio soçobrou nas sombras, sombrio acendeu uma vela, velado viu bem melhor as coisas, coeso não perdeu o individualismo, endividado não perdeu a pose, possuído conteve seus instintos, instituído recusou o mérito, maroto não perdeu-se nos melindres, melindrado negociou o perdão, perdido conheceu melhor o labirinto, laborioso poupou para a velhice, velho não poupou experiência, expectador vaiou e aplaudiu, aplastado deu a volta por cima, acima pisou para não cair, caindo recorreu à mão amiga, amigo mandou dizer que não estava, estarrado faltou-lhe o remédio, remediado achou que era muito pouco, apoucando não perdeu os detalhes, detalhando ocultou o pulo-do-gato, gatafunhando escreveu um livro, livre preferiu não voar, voante eternizou-se. O túmulo do homem feliz continua vazio.

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