terça-feira, 5 de outubro de 2010

Manual de Cultura Inútil

VOTO (IN)ÚTIL


Neste domingo vou votar pela paz na terra, pela guerra contra a mediocridade, a liberdade dos passarinhos, os caminhos com destino à sonoridade, a luminosidade da mina arruinada, a piada antiga e seu riso falso, o cadafalso e sua corda nova, a cova e seu defunto novo, o povo e sua experiência, a consciência e seus cabelos brancos, o banco e a conta corrente, a enchente e seus flagelados, o regalado e as abundâncias, a jactância e seus jacás de arroubos, o roubo e seu desvendamento, o cimento e sua sementeira, a cegueira e sua iluminura, a rasura e sua correção, a correição e a voracidade, a veracidade e suas relações, as eleições e seus bons resultados, os soldados e suas baionetas, a caneta e o mataborrão, a seleção e o novo treinador, o trilador e seu trinado triste, o chiste e sua graça oculta, a catapulta e seus alvos cinza, o cinzel e sua pedra ume, o curtume e seu couro cru, o cruá e sua fibra fímbria, a cimbra e sua sombra recurva, a curva e seus atalhos retos, o feto e a vida de fato, o fator e suas consequências, a demência e sua lucidez, o freguês e sua razão, a ração e o razoável, a razia e a pilhagem, a milhagem e o apagão aéreo, o etéreo e o eterno, o inferno e todas maldições, o maldizente e sua língua preta, o exegeta e sua didática, a pragmática e seu formalismo, o fanatismo e suas utopias aterradoras, o aterro e o nivelamento, o movimento e sua abrupta interrupção, a vibração e seu momento de prazer, o lazer até o limite da vadiagem, a viagem até a margem direita do precipício, o benefício até o último a ter direito, o pleito até o último voto, o voto até o primeiro homem honesto.

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