sexta-feira, 16 de abril de 2010

Manual da cultura inútil

Quem muito fala dá bom dia a cavalo, no embalo quebra o galho, no atalho encurta o trecho, no queixo segura a onda, na sonda se aprofunda, na rotunda se protege, no herege se espelha, na parelha se reforça, na roça perde a semente, na corrente não se cansa, na esperança não se rende, do alpendre vê o infinito, no grito nem sempre ganha, na manha às vezes empata, da gravata nunca escapa, no mapa se localiza, na camisa se identifica, na pelica se acomoda, na moda dá o tom, no som ensina a dançar, no patuá leva a sina, do sino leva o dobrar, no bar afoga as mágoas, nas águas afaga o fogo, no jogo dobra a parada, na estrada senta à beira do caminho, ao vizinho conta vantagem, na miragem mede a distância, na elegância não convence, se vence não leva, na ceva não engorda, na corda não laça, na raça não segura, na fissura não passa, na praça não passeia, na ceia não sacia, na súcia se revela, na novela imita a vida, na corrida sempre volta, dá voltas e segue em frente, decadente perde o peso, surpreso não se admira, na mira não se retira, na pira não arde, no alarde não se toca, na toca tocaia o sono, do trono impera o reino, do treino tira o ágil, do ágio aufere o lucro, ao xucro doma, à soma diminui, reflui o reflexo, o complexo reduz, a cruz carrega, prega a palavra, lavra o sumário, ao primário pronuncia, ao prenúncio o desvio, ao pavio a chama, à trama o fuso, ao confuso o remo, do extremo a prudência, da cadência a harmonia, da sinfonia a sanfona, do cafona o cafofo, do mofo o abolerecimento, do aborrecimento a satisfação, na cloração a pureza, da incerteza o seguro, do puro o manchado, o fado e a morte. Assim é a vida.

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