terça-feira, 12 de agosto de 2008

Sorvências

GÊNEROS DEGENERADOS

O pai atirou a filha do quinto andar, o luar verteu línguas de fogo, o jogo terminou em tragédia, a comédia não teve a menor graça, a praça virou um campo de guerra, a terra estéril matou a semente, a serpente inoculou o veneno, o sereno ácido secou a roseira, a peneira não segurou o grão, o cão mordeu o dono, o sono tornou-se pesadelo, o camelo morreu de sede, a rede perdeu o peixe, o feixe ficou sem varas, os caras pintaram a cara, uma coivara incendiou a floresta, a festa acabou em sangue, o mangue drenado é hoje a cidade, a maldade prevaleceu, choveu gafanhoto na roça de trigo, o castigo veio a cavalo, de estalo o erro letal, no ancestral o péssimo exemplo, no templo o sacrilégio, no colégio nenhuma lição, na eleição o pior resultado, o deputado vendeu o voto, o devoto negou a promessa, a remessa chegou atrasada, a estrada perdeu-se no atalho, o espantalho perdeu a temeridade, a felicidade ficou sem dentes, o valente valeu-se do fraco, o saco vazio parou de pé, o café amargo esfriou a chaleira, a fieira não alcançou a espessura, a gordura afogou a vaidade, a beldade embranqueceu os cabelos, o novelo emaranhou a linha, a galinha cantou sem botar, o maná apodreceu, emudeceu a voz que não se calaria, a calmaria acordou o vulcão, o vagão descarrilou e arrancou o trilho, o brilho da lua testemunhou o delito, o mito banalizou o medo, o segredo se fez estribilho, o polvilho azedou a merenda, a oferenda era uma carta-bomba, a sombra era o vulto da morte, a sorte chorou a derrota, a rota saiu da rotina, a retina espanou a calota, a marmota perdeu-se no labirinto, o extinto esvaziou o extintor, o impressor danificou o clichê, o saci-pererê quebrou a perna e a baderna eletrônica entrou em curto.

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